Fechou os olhos, para sempre. Chamava-se Carlos Ribeiro. Cedo começou na Livraria e Papelaria Fontenova, em Famalicão. Bem se pode dizer, sem exorbitar, que ele foi, durante duas décadas, o “Senhor Livraria”. Mais de meia Famalicão conhecia-o…
Os livros, os que se perfilavam nas estantes e na montra dessa casa comercial, eram os seus amigos de caminhada de vida. Tratava-os por tu. Conhecia-os, por dentro e por fora. Olhava-os, com respeito. Arrumava-os. Alinhava-os como militares em parada. Sabia exibir, no escaparate da semana, os melhores… Reconhecia-lhes as virtudes, as que os escritores tinham plasmado em cada obra. A costaneira de cada livro já era o suficiente para saber do que se tratava: romance, biografia, policial, ficção, etc. . Era um homem que passava e se passeava despercebido, dentro das paredes do Fontenova. Ele próprio era uma Biblioteca, dentro da própria Livraria… Era um verdadeiro e percebido livreiro.
Carlos, no dizer de António Melo, o proprietário dessa Livraria, casa cinquentenária na mão da família, já pertencia aos “Melos” e era um sábio dos livros. Era, também, um conselheiro da Livraria e dos clientes. Na memória de António Melo muitas peripécias. Fica uma: “era sempre o primeiro a chegar. Por vezes dizia-lhe que devia descansar mais. Respondia-me: “não Tony…venho cedo para colocar os computadores a aquecer”. Ele um homem das letras e dos livros…havia de glosar, com ironia, as máquinas das novas tecnologias. A colega Daniela deixa, levemente, um traço do seu colega: “o Carlos e o seu sorriso…”.
Os livros sabiam-no um amigo. Quem sabe se foi um confidente das letras que estavam impressas nas páginas de cada um. Pressentiam-no como um zelador de cada obra.
Conheci Carlos, faz 2 anos. Era recatado, como o é qualquer homem que, apesar de reconhecer o seu valor, é fiel aos princípios que elevam cada ser humano ao seu pedestal, o da humildade. Ele tinha essa postura educativa. Percebi e senti isso nele. Um patamar maior…
O Carlos Ribeiro leva consigo uma Livraria para a Eternidade. O Carlos teve uma sublime virtude: deu-se aos pais; à família do Fontenova; à comunidade de Famalicão; e, também, ao nosso projecto de comunicação social. Mas o Carlos nunca se colocou em bicos de pés para receber homenagens: Mas deixa prova de uma vida cheia no campo das letras, porque cedo as conheceu, as devorou para ter arcaboiço sólido de cultura e procurou, no interior dessas mesmas letras, em caixa alta ou baixa e, também, em qualquer fonte ortográfica, identificar o significado de cada palavra…de cada frase. Ele sabia interpretar, mais do que ler.
O Famalicão Canal TV – proprietários, administração, direcção e toda a redacção – solidariza-se com a dor e a perda da Livraria-Papelaria Fontenova, na pessoa de António Melo, assim como eleva o seu olhar para os céus para saudar, já numa outra dimensão, o saudoso amigo Carlos Ribeiro. Até sempre, meu caro “Senhor Livraria”.
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