A sede da Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed), em Lisboa, voltou a acolher mais uma reunião de peritos esta terça-feira. Foi apresentada uma proposta de alteração da matriz de risco, assente em quatro níveis.
Portugal não está em condições de desconfiar totalmente, mas pode começar a reduzir as medidas restritivas atualmente em vigor. A mensagem foi transmitida esta terça-feira, no Infarmed, por Andreia Leite da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, que apresentou a proposta de alteração da matriz de risco.
A investigadora referiu que a proposta passa por uma “fase de transição” e que a matriz de risco deve ser atualizada para “480 casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias” (atualmente 240 por 100 mil), com um limite de 255 camas em unidades de cuidados intensivos (UCI).
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Desta forma, indicadores como taxa de transmissão R(t) e incidência devem manter-se como “centrais”, devendo também ser medidos os indicadores de gravidade clínica e de impacto na mortalidade.
“Durante fase de transição será necessário continuar a caracterizar as várias dimensões da pandemia, identificar alterações das características da epidemiologia da doença [novas variantes], alterações nos efeitos das vacinas, a necessidade de atuar precocemente e direcionar a atuação mediante as características da epidemia”, sublinhou, sugerindo ainda a utilização de um “quadro resumo”, estratificado por região e grupo etário.
Já Raquel Duarte, especialista da Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte e do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), frisou na sua intervenção que o novo plano assenta em seis pilares fundamentais: vacinação, testagem, distanciamento, higienizarão, uso de máscara e ventilação.
A vacinação incompleta, o contacto regular com crianças e/ou pessoas não vacinadas, a frequência de espaços com aglomeração de pessoas e ter fatores de risco para formas graves da doença são considerados fatores que, segundo a especialista, aumentam o risco.
Plano de 4 níveis
A proposta assenta em quatro níveis, sendo que Portugal se encontra atualmente no primeiro. O avanço entre fases deve basear-se na taxa de vacinação e o nível quatro (e último) poderá implicar a imunidade de grupo.
A ventilação e climatização adequada dos espaços fechados, a utilização do certificado digital nos espaços públicos e a autoavaliação de risco são as três regras fundamentais estabelecidas pelos peritos.
Entre o primeiro e o terceiro níveis, as regras gerais são o trabalho remoto ou no exterior sempre que possível; o cumprimento da distância física; uso de máscara em ambientes fechados e em eventos públicos; e ainda “evitar todas as situações não controladas de aglomeração populacional”.
“Com estas medidas gerais, aquilo que nós propomos é que no setor escolar sejam cumpridas as medidas gerais e em termos de atividade laboral exatamente a mesma coisa”, frisou Raquel Duarte.
No caso da restauração, os peritos propõem que seja privilegiada a permanência no exterior.
Ainda assim, e segundo o plano, a limitação de pessoas é para continuar no interior, podendo ir de seis a oito pessoas por mesa “do nível um para o nível três”.
Já no exterior, o número aumenta para dez pessoas na mesma mesa no nível um, 15 pessoas por mesa no nível dois e no nível três prevê-se que não haja qualquer restrição de pessoas.
Nos grandes eventos exteriores e com espaço delimitado, devem estar “bem definidos os circuitos de circulação”. Quando o espaço não puder ser delimitado, os eventos não devem, para já, acontecer.
A utilização da máscara ao ar livre vai cair no nível dois do plano, mas a utilização deverá acontecer sempre que não seja possível manter o distanciamento físico.
Já no que diz respeito a casamentos e batizados, a lotação é limitada a 50% dos espaços interiores no nível um e deve ir aumentando “progressivamente até à lotação máxima”.
Nas praias e parques de campismo, a utilização da máscara deverá ser mantida apenas em locais como os apoios de praia, devendo o distanciamento físico ser mantido em todas as ocasiões.
Vacinação em crianças “é fundamental”
Henrique Barros, investigador da Faculdade de Medicina do Porto, apelou à vacinação das crianças para evitar um pico de novas infeções no inverno.
“O objetivo não pode ser termos um inverno igual aos invernos anteriores, porque controlávamos muito mal as infeções respiratórias. A estratégia tem de ser imaginarmos o que vamos encontrar daqui a alguns meses mas também no que podemos interferir”, começou por afirmar.
“Considerando o frio e 70% da população adulta vacinada no inverno, poderemos ter uma nova onda, mas pequena, com pouco relevo nos internamentos e nas mortes. Podemos prever um inverno no qual a vida se pode aproximar do que era antes”, avançou.
“Por cada diminuição de cinco graus nas temperaturas mínimas médias haverá um aumento de cerca de 30% do número de casos. É fundamental a vacinação de crianças. Se não forem vacinadas haverá um pico inequívoco de casos”, alertou o especialista, salientando que, se as medidas corretas forem asseguradas, o próximo inverno poderá ser “feliz”.
A última apresentação da sessão ficou a cargo do vice-almirante Henrique Gouveia e Melo, coordenador da task force da vacinação. O responsável voltou a frisar que a meta de ter 70% da população imunizada com a primeira dose da vacina se mantém para o período à volta de 8 de agosto.
Gouveia e Melo informou também que foram recebidas menos vacinas do que as contratadas, mas que está a haver um “esforço” por parte do Infarmed e do Governo para “adquirir vacinas em parceiros europeus”, o que se pode traduzir no fornecimento de “cerca de um milhão de vacinas” da Janssen e da Pfizer na próxima semana.
Relativamente às crianças e jovens, o coordenador da task force disse que a vacinação vai iniciar-se no fim de semana de 14 de agosto nos adolescentes, entre 16 e 17 anos.
As crianças entre 12 e 15 anos serão vacinadas com a primeira dose nos dois fins de semana a seguir, caso a Direção-Geral da Saúde aprove.
Créditos:
Texto: zap.aeiou.pt – Liliana Malainho
Imagem: sapo 24
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