Uma perturbação frontal associada a uma depressão centrada a norte do arquipélago dos Açores aproximava-se do território do continente às primeiras horas do passado dia 24 de dezembro, em progressão de Oeste para Este. A massa de ar pré-frontal, tropical marítimo, apresentava conteúdo moderado em água precipitável.
A instabilidade desta massa de ar era igualmente moderada e coexistia, em especial sobre as regiões do centro e sul do território, com wind shear cuja distribuição vertical favorecia a formação de convecção organizada, embora com potencial relativamente marginal para a geração de tornados. À aproximação da referida perturbação frontal das regiões da Estremadura e Vale do Tejo, foram observadas diversas formações convectivas de natureza supercelular. Uma destas supercélulas, cuja assinatura no campo da velocidade Doppler (de baixa elevação), exibindo o típico mesociclone, produziu um tornado que afetou a localidade de Foros de Salvaterra, concelho de Salvaterra de Magos, distrito de Santarém.
De acordo com a análise das observações radar e documentação recolhida pelo IPMA mas, também, com relatos e documentação que lhe foram enviados acerca deste episódio, foi possível apurar uma série de detalhes sobre este fenómeno. A deslocação do tornado correspondeu a um rumo de Sudoeste-Nordeste, em harmonia com a propagação da nuvem-mãe. O fenómeno terá iniciado o contacto com o solo nas imediações de Cardal, pelas 14:26 UTC tendo progredido a uma velocidade elevada para Nordeste e produzindo danos ao longo de um trajeto de aproximadamente 15 km, com um rasto de destruição de largura variável. A intensidade máxima terá ocorrido pelas 14:36 UTC, quando afetava a zona das instalações da Brisa, de Foros de Salvaterra.
O tornado ter-se-á dissipado próximo de Granho, pelas 14:46. O trajeto do centro do mesociclone ao qual o tornado esteve associado. O tornado poderá ter mantido contacto com o solo ligeiramente para a esquerda ou direita deste trajeto. De acordo com uma análise preliminar dos efeitos da destruição causada (em habitações, edifícios, viaturas, terrenos, estruturas agrícolas e árvores) ao longo do referido trajeto, o tornado de Foros de Salvaterra deverá ter alcançado uma intensidade F1/T3 (escala clássica de Fujita/escala de Torro), correspondendo a vento na gama 42-51 m/s, ou seja, 151-184 km/h (rajada, média de 3s). Estes valores devem ser entendidos como provisórios, podendo vir a ser confirmados ou alterados proximamente.
O IPMA deixa o seu agradecimento ao Sr. Manuel Bolieiro, Presidente da União de Freguesias de Salvaterra de Magos e Foros de Salvaterra, pelos elementos enviados e esclarecimentos prestados acerca deste episódio. A probabilidade de um tornado ser observado numa estação meteorológica é extremamente baixa. Embora se trate de um fenómeno que pode ter um forte impacto, é de muito pequena escala espacial e temporal, afetando áreas muito restritas. A contribuição destes relatos é preciosa para avaliar as características deste tipo de fenómeno, o impacto que tem no território e na população e as condições em que se forma.
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