A notícia da morte de Francisco Pinto Balsemão, aos 88 anos, tocou o país e, de forma particular, a comunidade jornalística, da qual ele foi um pilar e um visionário. A Famalicão Canal TV, enquanto porta-voz da sua região, junta-se à homenagem nacional, mas aproveita este momento de reflexão para ligar o seu legado ao futuro, e aos desafios prementes do jornalismo local e regional em Portugal.
Francisco Pinto Balsemão, político e empresário de comunicação, foi mais do que um nome na História. Ele foi um percursor do jornalismo português livre e plural. Com a fundação do Expresso antes do 25 de Abril, desafiou a censura e, mais tarde, com a criação da SIC, impulsionou a diversidade mediática, moldando o panorama informativo que hoje conhecemos. Esta trajetória sublinha a sua presença e preocupação com a consolidação da democracia. Para Balsemão, a liberdade de imprensa não era um luxo, mas o oxigénio da vida democrática. A sua intervenção na política e nos media demonstra uma rara e admirável simbiose: a convicção de que um país só é verdadeiramente livre se tiver uma comunicação social robusta e independente.
A sua perda é, inequivocamente, uma perda para o jornalismo português. Perde-se um dos últimos grandes vultos que compreendia o papel crucial da informação na formação da consciência cívica e na fiscalização do poder.
O Grito Silencioso do Jornalismo Regional
É neste contexto de pesar e reflexão que se torna imperativo abordar uma ferida aberta na nossa democracia: a falta de valorização do jornalismo regional/local por parte dos sucessivos governantes.
Os órgãos de comunicação locais, como a Famalicão Canal TV, são a verdadeira primeira linha da informação. Somos nós que damos voz aos cidadãos, que acompanhamos as decisões camarárias, que noticiamos a vida económica, cultural e social que afeta diretamente o quotidiano das populações. No entanto, enfrentamos um cenário de crescente precaridade. Enquanto os grandes media de Lisboa, fruto do caminho aberto por Balsemão, têm a sua importância reconhecida e beneficiam de mecanismos de apoio, o jornalismo local e regional é consistentemente ignorado.
Esta falta de apoio e valorização é, na prática, um atentado à coesão territorial e à própria saúde democrática nas comunidades. Um jornalismo regional fraco leva ao défice de escrutínio local, à proliferação de desinformação e, em última análise, ao afastamento dos cidadãos das instituições que os governam. Os responsáveis políticos têm de entender que apoiar o jornalismo local não é um favor, mas uma obrigação cívica e democrática. É garantir que a Liberdade e a Informação cheguem a cada freguesia, a cada vila, a cada bairro.
O Legado e o Futuro: Um Novo Compromisso
O verdadeiro legado de Francisco Pinto Balsemão e a sua preocupação com a democracia deve ser o catalisador para uma reflexão profunda sobre o futuro do jornalismo em Portugal.
A minha sugestão para o jornalismo no futuro é clara: é imperativo que o Estado e a sociedade civil estabeleçam um Novo Pacto de Valorização e Sustentabilidade para o Jornalismo Local e Regional. Este pacto deve passar por:
- Reconhecimento Financeiro e Estrutural: Criar mecanismos de apoio transparentes e perenes, que permitam aos órgãos regionais investir em recursos humanos, tecnologia e, crucialmente, em jornalismo de qualidade.
- Inclusão Digital e Literacia Mediática: Integrar o jornalismo local nas estratégias nacionais de transição digital e literacia mediática, reconhecendo o seu papel único na luta contra a desinformação à escala comunitária.
- Reforço do Escrutínio Local: Encarar o jornalismo local como um parceiro fundamental na transparência da governação autárquica, garantindo o acesso à informação e a sua capacidade de fiscalização.
Só garantindo a vitalidade da informação de proximidade, que foi sempre a base de qualquer sociedade informada, poderemos honrar o legado de um homem que dedicou a sua vida a construir pilares sólidos para a nossa democracia. Francisco Pinto Balsemão deixa-nos o testemunho de que a liberdade se cultiva e se defende, todos os dias, com informação. Cabe-nos agora, a partir da esfera regional, assegurar que essa semente continua a germinar em cada canto do país.
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