As Eleições Autárquicas de 2025 em Vila Nova de Famalicão voltaram a escrever um capítulo familiar na história política local, consolidando o domínio de uma força política de Centro-direita que se mantém no poder camarário há mais de duas décadas. A reiteração desta escolha levanta questões profundas sobre a dinâmica do eleitorado famalicense, a eficácia da oposição e o estado de saúde da democracia local.
Resultados: Porque Famalicão Persiste com a Maioria de Direita
A vitória da coligação de Centro-direita (historicamente PSD-CDS-PP) não é um acaso, mas sim o resultado de uma conjugação de fatores. Em primeiro lugar, a continuidade da governação tem sido sustentada por uma perceção de estabilidade e de gestão competente, assente em projetos visíveis e no desenvolvimento económico e social do concelho. A marca política do executivo, independentemente da alternância de líderes dentro da mesma esfera, conseguiu criar raízes e uma fidelidade eleitoral significativa, traduzida em maiorias absolutas sucessivas (com o atual ciclo a durar há 24 anos, desde 2001). Famalicão é um concelho vibrante, e a população tende a premiar quem é visto como o “construtor” desse sucesso.
Eleitorado: A Participação e a Escolha Cimentada
A participação nas autárquicas de 2021 (cerca de 63,5% – um valor alto em comparação com a média nacional, mas revelando ainda uma abstenção considerável de 36,5%) mostra um eleitorado relativamente empenhado, mas cuja escolha é consistentemente previsível. A escolha dos famalicenses pela Coligação ao longo de quase um quarto de século sugere que o voto é mais baseado no mérito percebido da gestão autárquica em funções e numa confiança enraizada na máquina política instalada, do que num desejo de alternância. Esta inércia eleitoral, por vezes interpretada como comodismo ou desinteresse, é, na verdade, uma prova de estabilidade, mas que encerra o risco de estagnação.
Projetos Apresentados: Foram Suficientes?
O facto de a maioria de Centro-direita se manter sugere que os projetos apresentados, tanto os concluídos como as novas promessas, foram suficientes para convencer a maioria dos votantes. A tónica no desenvolvimento empresarial, na qualidade de vida urbana e na coesão territorial tem sido a espinha dorsal desta governação. Contudo, a ausência de verdadeira ameaça eleitoral pode levar a uma autossuficiência do executivo. A questão não é se os projetos são bons, mas se Famalicão, como concelho, está a ser desafiado a ambicionar mais, a preparar-se para o futuro com a mesma ousadia que a oposição falha em inspirar.
Estruturas Políticas: O Desafio da Oposição
É aqui que reside o maior problema: a “Famalicão sem oposição“. As estruturas políticas que se opõem à maioria (com o PS a ser a principal, mas também forças mais à esquerda e as emergentes como Chega e IL) demonstram uma incapacidade crónica de convencer o eleitorado famalicense a apostar na mudança. Os resultados de 2021, apesar de o PS ter conseguido manter os seus 4 vereadores e o Chega eleger um, mostram que a hegemonia da direita se mantém inabalável.
A oposição precisa urgentemente de se reformular. Não basta ser a alternativa; é preciso ser uma alternativa credível, com rosto, equipa e visão que consiga penetrar o ciclo de lealdade e confiança que a maioria estabeleceu. Os projetos da oposição parecem, muitas vezes, não ter o eco necessário ou não serem percebidos como verdadeiramente distintivos e mais transformadores do que o que já existe.
Conclusão: Famalicão Sem Oposição, Uma Democracia em Equilíbrio Precário
A reeleição da coligação em 2025, após 24 anos de poder, coloca Famalicão num cenário de democracia de maioria onde a ausência de uma oposição forte e credível é o fator mais preocupante. Uma oposição fraca não só não fiscaliza adequadamente o poder, como também permite que o executivo se acomode.
Famalicão precisa de um debate político mais vibrante, de projetos que desafiem o status quo e de vozes que ofereçam alternativas reais.
Em última análise, as Autárquicas de 2025 confirmam que Famalicão valoriza a estabilidade e a gestão visível, mas lançam um grito mudo sobre a necessidade de alternância e de um pluralismo político mais robusto. Se alguns apontam inércia na maioria, então esta só será quebrada quando a oposição for capaz de construir uma visão que não seja apenas contra o atual poder, mas verdadeiramente pelo futuro que os famalicenses anseiam.
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