Na nossa Rúbrica semanal, emitida às 5.as feiras, Fé.0, e durante as últimas três edições, quisemos abordar, com ponderação, mas sem tapar nada com a peneira do sol ou refugiar-nos nas sombras das palavras, o tema que abalou a nossa sociedade, os abusos sexuais dentro da Igreja. Na sociedade civil há muitos outros, mas estão ainda no sótão das coisas escondidas no baú…
Decidiu a Direcção deste Canal, consciente da responsabilidade que tal representava, mas preparando-se para o confronto das ideias e, também, para o que e, das entrevistas, pudesse ressaltar, promover esses Programas, contribuindo para o esclarecimento das pessoas.
O painel dos entrevistados, elementos da Comissão de Protecção de Menores e Adultos Vulneráveis da Arquidiocese de Braga, apresentou-nos gente qualificada e especialista. Os 3 programas foram, na minha óptica que os realizei, com a total abertura da Administração e Direcção do Famalicão Canal, uma janela escancarada de ideias e de opiniões, em liberdade, onde ganhou espaço de eleição, a vítima, a necessidade de educar, de prevenir e, também, a sexualidade. Sem redomas, preconceitos ou palas de abordagem… Não nos podemos esquecer que em 1977, ali a um longe-perto, não existia, na lei, abuso sexual. Era enquadrado como um caso de maus tratos. Interessante analisar isso, agora, neste presente-hoje… A justiça caminha lenta e tarda a acordar. Não se democratizou…
O que mais me tocou é que, e na preparação deste tema, dei de caras com uma amiga que foi abusada, também. Conversámos e, a dada altura, aliás, como reflecti num dos Programas, atirou-me, fazendo-me estremecer o corpo, apertar o coração e quase derreter a alma (cito): “Não me sinto pessoa…”.
A vítima tem rosto, pode ser a Ana, a Alice, o Manuel, o Francisco… Mas é preciso deixar que a vítima desabafe, que fale, que atire o medo para trás das costas e que se regenere como pessoa e na sua identidade. A vítima, ficámos a saber, poderá interrogar-se, depois do que lhe aconteceu: saberei voltar a amar? Saberei entregar-me a uma sexualidade saudável?
Ouvimos dizer que o abuso existe porque há parafilias. Que palavra…traduzindo: perturbações sexuais, mais de orientação sexual. Comumente são designadas por “perversões” sexuais. Deixo-vos alguns exemplos: voyeurismo, pedofilia, sadismo, zoofilia, etc. .
Ressalta da 3 entrevistas em que participei que se torna necessário, em casa e nas nossas escolas, preparar as nossas crianças, para olharem para o sexo sem ser um tema tabú, mas que seja abordado por quem entenda da tenda, do tema. Não nos podemos esquecer que abusar do corpo do outro é, para muitos, uma realização sexual, um troféu…
Olhando para uma outra abordagem, afirmar que a orientação sexual não é uma escolha…é uma descoberta, a dada altura da vida, como o ser hétero, homo ou outra coisa. No respeito, conseguiremos respeitar-nos nas nossas diferenças e realidades.
Espero que o nosso projecto de Comunicação Social possa ter contribuído para que os que visualizaram esses 3 Programas da Rúbrica “Fé.0”, em que não nos remetemos aos silêncios, tenham ficado por dentro do tema e, a partir de agora, estejam mais atentos a sinais e despertos para entender as situações, ajudando a prevenir e a denunciar.
Pela minha parte, quero deixar uma palavra de agradecimento, com um forte bem-haja a todos os membros da referida Comissão da Arquidiocese de Braga. Não só pela disponibilidade da presença e a amabilidade do relacionamento pessoal mas, também, pelo que deixaram ao nosso auditório, em informação, alertas e o que nos ensinaram. Estou mais rico e mais preparado. Minha saudação a eles e aos que nos seguem, acreditando na nossa forma de fazer jornalismo.
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