Por António Barreiros (Chefe de Redacção)
Lanço-me a esta proeza com a valentia da língua, a portuguesa, que me convoca a escrever sobre o Homem, o Português, o Poeta, o Escritor e o Cidadão das Letras que foi Camões.
Camões foi e continua a ser um dos símbolos maior do Patriotismo de uma geração, a de quinhentos, que se projectou nos e pelos tempos, até hoje, conferindo-nos, como Povo e como Nação, o orgulho de sermos Portugueses e de erguermos a bandeira de Portugal, no nosso canto Lusitano, no pedaço mais Ocidental de praias Europeias…
Um símbolo, também, o da nossa Identidade Cultural que radica na nossa História quase milenar, em que contemplamos: feitos e proezas; vitórias esforçadas e derrotas salobras; mares nunca dantes navegados; amargos de boca e traições; quedas e incertezas; intrigas e escárnios de alcofa; heróis e afoitos homens que deram a vida; nevoeiros e brumas; e, com pundonor, escreveram a maior parte das páginas que lustram o nosso passado glorificado.
Faço-o – quero deixar anotado – com a sensação que estou, como as caravelas de Vasco da Gama, a rasgar oceanos em direcção ao caminho Marítimo para a Índia, a enfrentar o Adamastor. A encontrar, por aqui e por ali, gentios de terras tingidas de preto, mas que deixam escapar as cores garridas e vivas de uma África que tresanda a suores que nos vão tamponando os poros. Untado por esse passado ousado e cheio de imaginários, dou-me à vontade de escrever, porque me deparo um universalista.
Nestes 500 anos das Comemorações do Nascimento do sábio arquitecto da ”trova” que descreve, em poemas aritmeticamente formatados, a nossa mais arrojada e projectada Epopeia, quero deixar-vos momentos que, no meu modo de olhar, sobressaem dessa Obra de Camões. Um descritivo poético, com o épico de uma proeza, de uma aventura maior, a nossa, dos marinheiros portugueses, que nos fez escancarar a todos os cantos. Com lutas guerreiras, o que nos valeu olhar os novos horizontes, dando-os ao Mundo, tomando-os como a parte primeira, a o nascimento da globalização…
Camões e a sua principal Obra retrata o símbolo de Patriotismo português e, também, revela a Identidade Cultural Lusa. Se o primeiro traço português foi decisivo para o que descobrimos, a segunda transportou universalismo.
Os Lusíadas manifestam a nossa missão civilizadora do Mundo, num tempo de mudanças…com a introdução do Renascimento, que excluiu o Feudalismo.
Os Lusíadas cantam o nosso destino, o que nos abriu horizontes. Exaltam o Amor espalhado aos quatro ventos e cantos. Assinalam a palavra saudade como marca-certificado da nossa alma…humanisto-cristã, onde o espiritual toma forma. E montam cada passo do caminho percorrido, com ventos, marés, salgas e todos os temores que uma descoberta encobre no seu trajecto.
Camões convida-nos como povo, ainda hoje, a desbravar, sem destinos, o desconhecido. Houve além-mares…outras terras, outras gentes, outras paragens e aqueloutras culturas. Hoje, há ocidentes, como pontos cardeais para nos soltarmos e continuarmos a nossa diáspora, de povo disposto a descobrir.
Numa viagem pelos nossos feitos, a da nossa comunidade Lusa, Camões, sendo revolucionário do seu tempo e a seu modo, como poeta e cidadão, deixa descrito, em esplendor, com as velas das nossas naus como palco dessa monumental peça, visualizando-se as cristas das ondas que as nossas naus sulcaram, a força, a tenacidade, o esplendor e nobreza do nosso povo, o herói que ele narra, homenageando-o…
Reencontramos um Camões – permitam-me a palavra – “lusidificado”. Com isso pretendo afirmá-lo como uma lusa figura, brilhante, resplandecente, cintilante, vistosa e lustrosa. “Lusidificado” porque a sua Obra, em grandeza e em projecção, está já solidificada pelos tempos e pelo que representa para esta nossa Nação e para todos nós, os luso-cidadãos.
Por esta comemoração, a dos 500 Anos sobre o Nascimento de Camões, quero trazê-lo, recordando, para exaltar a sua Obra que nos convida a redescobrir o valor do Patriotismo e a ressalvar, projectando, a nossa Independência como Nação e Pátria secular.
“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. (…) Todo o Mundo é composto de mudança”.
A nossa Cultura e a nossa Identidade, como Povo e como Nação, tem uma matriz…muito portuga, muito alma lusa, muito cristã e muito humanista. Os tempos, os deste século, o XXI, já se mudaram. Também as vontades. Mas deve permanecer, para sempre, na sua génese, nos seus eixos fundamentais e no seu propósito, a Cultura e a Identidade Portuguesa, a de sermos Gente determinada e de vontades, para elevarmos os nossos egrégios avós, sem temermos os que, escarnando e vomitando ódios, se entregam há maledicência de nos escarrarem com palavras ocas e de enxovalho.
Os velhos do Restelo, os de hoje, besuntam-nos de racismos e de xenofobias, sem olharem para os pedaços maiores da nossa história que foram de entrega e de mistura, promovendo, com a mestiçagem, uma nova irmandade entre povos, além de tudo quanto soubémos levar, com a Cruz de Cristo, por todas as paragens universais, como penhora de humanizar.
Camões, perene e perpétuo, dilatou-nos a “cobiça” de prosseguirmos a nossa obra, a de, com a nossa Cultura e a nossa Identidade próprias, continuarmos a Cantar Portugal e os Portugueses. A estarmos presentes, em diáspora, por aqui, ali e acolá – longe e perto – mostrando os nossos rostos tisnados por uma Identidade Cultural própria e firmada em séculos; e identificando-nos com um Patriotismo que, cantado, nos confere uma divisa e uma individualidade honrada e peculiar.
Camões convoca-nos a fazermos ressurgir, passados pouco mais de 500 anos, o Patriotismo que nos guiou à glória e, também, revalorizarmos – destapando e espalhando – a nossa Identidade Cultural. Sem saudosismos embarquemos no desafio que ele próprio nos deixou: sermos valentes e honrados, homens de carácter e de génio, além de Nação de enorme esplendor pátrio e grandeza de obras e de alma.
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