Mesmo com todo o esforço, de uma das superpotências mundiais, com um dos serviços secretos mais avançados, para criar desinformação e esconder vários crimes de guerra, quando ligamos a televisão no último mês, vemos imagens, vídeos e imensa informação sobre a invasão da Ucrânia.
Existem, no entanto, dezenas de guerras a nível mundial, em que a informação que temos é escassa, se não nula, puramente por falta de interesse da comunidade internacional. Um dos maiores exemplos é a situação no norte de Moçambique.
Na província de Cabo Delgado, uma região riquíssima em gás natural, segundo estimativas, 1.2 milhões pessoas, estão a ser afetadas por ataques terroristas.
Com os três maiores projetos de gás natural liquefeito em todo o continente africano, com um valor total de aproximadamente 60 mil milhões de dólares, esta província da antiga colónia portuguesa devia ser um local de enorme desenvolvimento económico. Porém, o crescimento de um grupo terrorista autodenominado Ansar al-Sunna ou Al-Shabaab (não confundir com o Al-Shabaab que opera na Somália), numa tentativa de estabelecer um Estado Islâmico, tem aterrorizado toda a província.
O grupo, segundo a ONU, está afiliado ao Estado Islâmico na Província da África Central.
Recruta jovens moçambicanos frustrados com a pobreza e tomou conta de várias cidades, incluindo Mocímboa da Praia, sede do distrito com o mesmo nome, a qual controlou durante quase um ano.
Todavia, esta é praticamente toda a informação que temos, sobre uma insurreição que deslocou 860 mil pessoas, sendo metade crianças, e matou, cerca de 3 mil.
A intimidação de jornalistas pelo governo e militares é a principal razão pela falta de acesso a informação fiável na região. A 5 de Janeiro de 2019, as autoridades moçambicanas detiveram ilegalmente o jornalista Amade Abubacar, que tinha relatado a insurreição e, alegadamente, foi sujeito a tortura, tendo sido libertado após 107 dias de detenção, sob fiança.
O governo português lidera uma Missão de Treino da União Europeia, em que 140 militares formadores preparam 1.100 oficiais, sargentos e soldados moçambicanos para combater em Cabo Delgado. Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, os soldados moçambicanos “tiveram uma formação humana a pensar nas populações civis que vão servir, respeitando os direitos humanos e o direito internacional”, o que é importantíssimo, após vários relatos de violações dos direitos humanos perpetrados pelas forças armadas.
Por incrível que pareça, muitas das informações que possuímos, como o número de mortos, são obtidos através de jornais do Estado Islâmico.
Muitas outras insurreições e invasões, como a situação no Iémen ou no Myanmar, não são faladas no mundo ocidental e as informações que temos sobre estes conflitos são limitados.
Francis Bacon, considerado como um dos fundadores da Revolução Científica, acreditava que saber é poder, sobretudo de dominar ou transformar a natureza em benefício da humanidade. Para tanto, o raciocínio indutivo não basta: é preciso conjugá-lo com observações empíricas, experimentos e experiências.
Devemos, isto posto, no mínimo, procurar obter mais informação e expor os vários conflitos a nível mundial.
Nuno Santos Ferreira
(Estudante Universitário)
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