O Fio da Navalha: O Não Parental e a Tragédia Inexplicável
O caso que chocou o país – o homicídio de uma mãe, alegadamente, por um filho de apenas 14 anos, motivado pela insistência nos estudos – é mais do que uma notícia trágica; é um abismo moral e social que nos obriga a questionar as fundações da educação e da relação pais-filhos na sociedade contemporânea.
A premissa é aterradora: um “não gostei” juvenil, uma recusa em aceitar a orientação materna, culmina no derradeiro ato de violência. O motivo, ainda que não seja a causa última do ato – pois a causa é sempre a falha radical da empatia e o recurso à violência – lança um foco cruel sobre o papel da autoridade parental.
Chegámos a um ponto em que a simples orientação – a insistência para que um filho estude, se esforce, planeie o futuro – é percecionada como uma afronta intolerável, merecedora de uma retaliação extrema? A figura da mãe, que, na sua essência, procurava o melhor para o seu filho, é reduzida a um obstáculo a ser eliminado.
Esta tragédia levanta a mais urgente das questões: Será que os pais, hoje, ainda podem dizer “não” ou orientar a vida de um filho sem temer as consequências?
Vivemos na era do empoderamento individual e da busca incessante pela felicidade e satisfação imediata. A pressão social sobre os jovens é imensa, mas a pressão sobre os pais também o é. Muitos receiam ser demasiado autoritários, optando por uma parentalidade permissiva que, na sua tentativa de evitar o trauma e o confronto, acaba por negligenciar a crucial tarefa de estabelecer limites e ensinar a frustração.
A capacidade de lidar com o “não“, com a rotina, com a obrigação e com o esforço, é o alicerce do carácter. Quando este alicerce falha, por excesso de mimos, por ausência de autoridade equilibrada, ou por problemas psicológicos subjacentes, o resultado pode ser catastrófico. O jovem que não aprende a gerir a frustração vê no obstáculo um inimigo, não um desafio.
É fundamental que esta tragédia não nos leve a um receio paralisante da educação. Os pais têm o direito e o dever de orientar, de estabelecer regras e de insistir nos estudos. Isto não é tirania, é amor e responsabilidade.
O que este caso, e outros de violência juvenil, nos grita é a necessidade urgente de reequilibrar a balança. Precisamos de:
- Reafirmar a Autoridade Parental Equilibrada: Ensinar os filhos que o “não” é, muitas vezes, uma forma de proteção e que o respeito pela autoridade é um pilar da vida em sociedade.
- Educar para a Frustração: A escola e a família devem ser espaços de aprendizagem do esforço e da resiliência, onde se reconhece que a satisfação nem sempre é imediata.
- Saúde Mental em Foco: É imperioso que pais e educadores estejam atentos aos sinais de alerta psicológico e emocional nos jovens, garantindo que o acesso a apoio especializado seja desmistificado e facilitado.
O jovem de 14 anos que alegadamente pôs termo à vida da mãe não é apenas um criminoso; é também uma vítima de um falhanço profundo – seja ele pessoal, familiar ou social. A resposta não pode ser o silêncio e a passividade parental, mas sim uma educação mais forte, mais consciente e, acima de tudo, mais corajosa, que não se acovarde perante o imperativo de dizer: “Tens de estudar. É para o teu bem.” O preço de não o fazer, a ser verdade o motivo, é incomensuravelmente alto.
ARTIGO DE OPINIÃO
Paulo Jorge Silva – Diretor – Famalicão Canal TV
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