Provocatoriamente deixo o título com esta formulação. Antes de chegarmos ao lucro, é preciso entender como se chega ao lucro. Vêm isto a propósito de um discurso, cada vez mais recorrente na sociedade civil, fruto de algumas notícias que vão aparecendo, de que uma empresa é diabólica porque gera lucro, e retribui os seus dividendos pelos acionistas.
Começando pelo início, para que serve uma empresa? Ou melhor, porque quererá alguém criar uma empresa? Será para criar riqueza para o país? Será para gerar emprego? Para colmatar uma necessidade no mercado? Para enriquecer? Imagino que por muitas destas razões e outras tantas. O que aconteceria se os investidores e empreendedores soubessem que não iam gerar lucro ao criarem ou investirem num negócio? Esta é fácil responder, não se metiam nisso, mesmo que o negócio tivesse uma faturação elevadíssima. Vendas não é lucro…
Recapitulando, um empresário entra num negócio se existir possibilidade de rentabilidade. Se não existir essa possibilidade, não faz o negócio. Reparem que escrevi “possibilidade”, entrar num negócio nem sempre significa receita, e muito menos lucro. Quantos investidores já perderam o seu capital por maus negócios, que não geraram lucro? O maior risco são os empresários que o tomam por terem que lidar com a incerteza do mercado.
Então porque insistimos em diabolizar o lucro? Já sei, são aqueles que consideram que uma empresa gerar lucros acima do que elas consideram elevado deveria ser proibitivo. Estas mesmas pessoas não são capazes de olhar para o modelo de negócio da empresa e reconhecer que se ela tem margens de lucro bastante avultadas pode ser pela qualidade do seu modelo de negócio e não por “explorarem” a “classe operária”.
Ou outras ideias iluminadas sobre tributação a “lucros excessivos ou extraordinários”. Cada ideia…. Existe uma cultura em Portugal que aumentar a tributação nos vários aspetos da atividade económica irá provocar uma maior receita para os cofres do estado. Ideia mais absurda. O que irá fazer é diminuir o consumo, diminuindo a receita fiscal a longo prazo. É simples, quanto menor a carga fiscal sobre os portugueses, maior o rendimento disponível, maior o consumo e poupança, maior a receita com impostos. Não esquecer que o rendimento que não me é tributado com a diminuição de impostos, tem, ou é, gasto em outro bem ou serviço.
Imaginemos que por uma baixa de um IVA na fatura da eletricidade, comecei a ter uma disponibilidade de +10€ por mês. Naturalmente que usarei essa disponibilidade em outro consumo. Esse consumo tem uma certa tributação. A empresa que vendeu esse bem que eu consumi com a minha maior disponibilidade, faturou mais por causa dessa venda, e por incrível que pareça, tem impostos associados a essa venda e à margem gerada. E arrisco-me a dizer que a receita produzida no longo prazo é muito maior para o estado com a baixa de impostos.
O diabo anda aí!?
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