O Festival de Ponte da Barca está de volta.
O Festival Folk de Ponte da Barca resiste e acontece em modo confinado, mas presencial e a exemplo da edição de 2020 será reduzida a dois concertos, assim apresenta-se Rodrigo Leão e da Galiza a Guadi Galego, acontecerá a 31 de julho,
Limitado á condicionante em vigor resultante da condição pandémica, que não permite a celebração de forma que o Festival nos habitou, esta realização reduzida, mas fortemente simbólica do Festival compensa com a apresentação de dois nomes maiores e mais representativos da melhor música feita de ambos os lados do rio Minho
De percurso em parte similar, ambos aparecem em grupos fortemente identitários, criando a partir da música de raiz os seus projectos ricos em conceção singular, no caso de Rodrigo Leão a Sétima Legião e os Madredeus, e por parte da Guadi Galego os incontornáveis Berrogüetto, referencia icónica da Galiza.
PUBLICIDADE
Ambos os músicos evoluíram depois para carreiras a solo, com uma contemporaneidade reconhecida e destacada pelas sucessivas conquistas de reconhecimento por parte da critica e do publico.
Rodrigo Leão com uma quantidade já bastante significativa de edições onde explorou bastantes imaginários e semeou colaborações com vários Artistas, apresenta neste novo disco intitulado “ O Método” de onde sai um concerto mais intimista e mais atmosférico, um concerto que convida o público ao silêncio, à tranquilidade onde as influências clássicas e eletrónicas estão mais presentes e são mais exploradas acompanhadas ainda pelo piano acústico que Rodrigo Leão tocará pela primeira vez em concertos.
Em plena fase de consagração no país vizinho, Guadi Galego desde que se assumi como criadora em nome próprio, editou em 2020 o seu quinto trabalho intitulado “Costuras” e sim é bem elucidativo este título, dado que implícito está o cuidado minucioso que a Artista aplica na conceção de uma música próxima de um universo pop, onde sobressai ainda a palavra escrita em destaque nas temáticas tornadas causa da artista.
Ambos vão ocupar o palco montado nas Terras da Nóbrega e apresentar os seus mais recentes álbuns.
O MÉTODO – O PROJETO
RODRIGO LEÃO FALA SOBRE “O MÉTODO”
Comecei a procurar ideias para este novo trabalho em meados de 2017, no meio de uma tour europeia com o Scott Matthew, depois do lançamento do CD Life is Long.
Como é habitual no meu processo criativo, os primeiros passos são sempre muito intuitivos e sem nenhum método! Algumas ideias surgiram em quartos de hotel. Em Novembro de 2017 gravámos as primeiras ideias no nosso estúdio caseiro, mas ficámos com dúvidas.
A verdade é que, depois de três trabalhos muito diferentes entre si – A Vida Secreta das Máquinas, O Retiro e Life Is Long – a minha necessidade de procurar novos caminhos aumentava, a par das influências de compositores como Nils Frahm, Ólafur Arnalds ou Max Richter.
Foi neste contexto que convidámos o músico e produtor italiano Federico Albanese para se juntar a nós. Tanto eu como o Pedro Oliveira e o João Eleutério percebemos que fazia sentido neste trabalho termos um ouvido de fora, e o meu amigo e manager António Cunha já tinha sugerido que experimentássemos trabalhar com um elemento novo.
Este momento coincidiu com outro não menos importante: o convite para compor música para uma exposição na Fundação Calouste Gulbenkian, “Cérebro – Mais Vasto Que o Céu”. Nesse trabalho, co-produzido pelo João Eleutério e pelo Luís Fernandes, aprendemos muito sobre sonoridades ambientais eletrónicas, que viriam a ser muito úteis neste novo disco.
As primeiras sessões de trabalho não foram fáceis, mas rapidamente chegámos a um método de trabalho que nos permitiu aproximar-nos das ideias que procurávamos. O Federico foi muito importante neste processo, propondo arranjos e instrumentações diferentes. Com a sua ajuda, as minhas ideias começavam a fazer sentido e todo o ambiente mais minimalista, etéreo que pretendia estava agora mais visível.
O Método acabou por ser o disco onde toquei mais piano acústico, o que veio mudar muito o som geral, para além de haver menos uso das cordas. E recorremos também a um coro juvenil com cerca de 20 vozes, que era uma das minhas ideias desde cedo.
É um disco mais contido, mais simples, mais depurado. Um pouco mais espiritual também… A própria música, mais ambiental, afasta-nos da nossa realidade. Assumi também um lado ingénuo que já sentia em alguns dos trabalhos anteriores.
Nos temas cantados, a minha intenção era inventar palavras, para não ter de usar nenhuma língua específica e tornar as canções mais abstractas. Existe um tema em inglês, “The Boy Inside”, cantado pelo Casper Clausen dos Efterklang; um cantor sugerido pelo Federico, mas que eu já conhecia e de que gostava muito. Outro tema, “O Cigarro”, é cantado em russo pela violinista Viviena Tupikova, que também escreveu a letra e toca há muito comigo. A cantora Ângela Silva, com quem trabalho há muito, também foi muito importante, quer pela sugestão de arranjos vocais, quer pela maneira pouco habitual de cantar com palavras que não existem.
O título foi mudando ao longo do tempo, mas O Método acabou por ser óbvio. Porque foi o disco onde mais procurámos um método para chegar a um resultado final. Mas para mim é muito mais interessante sentir o método de uma forma mais abstracta, filosófica.
Teremos todos um método interior para tentarmos fazer algo, para comunicarmos, sonharmos?
Vejo nestas músicas muitas perguntas que não têm respostas. Vejo uma criança a apontar para o céu: porque é que existimos? Para onde vamos depois de morrer? Qual o sentido da vida?
Gosto que a minha música faça perguntas, mesmo que elas não tenham resposta. Quer dizer que ela comunica com quem a ouve, que nos ajuda a pensar e a sonhar.
“Talvez este seja o meu concerto mais intimista e mais atmosférico,” diz Rodrigo Leão a propósito do espetáculo O Método. “Um concerto que convida o público ao silêncio, à tranquilidade.”
O músico português define a digressão O Método como “uma produção onde as influências clássicas e eletrónicas estão mais presentes e são mais exploradas. E onde, pela primeira vez, toco mais piano acústico.”
Rodrigo explica que “pela primeira vez, a voz será usada de uma forma menos convencional”. Este uso da voz nasce da opção do músico de usar, em vários temas de O Método, palavras cantadas numa língua inventada, não existente.
A estética musical dos novos temas gravados em O Método trará novidades para o material mais antigo que fará parte do alinhamento, cuja escolha e adaptação será feita de acordo com o ambiente geral dos concertos. “Haverá uma sensação de maior unidade e coesão ao longo de todo o concerto, apesar de tocarmos temas que foram compostos há mais de 25 anos”, valorizados pelos arranjos “que fomos construindo ao longo deste último ano com a ajuda dos produtores Federico Albanese, João Eleutério e Pedro Oliveira”.
“Costuras” reune 10 canções de Guadi Galego e Carlos Abal que viajam desde mundos associados à sua infancia até ao presente mais duro e ás vezes esperançoso onde a autora nos mostra tal e qual como é. Três colaborações compõem o disco, duas poetas Antía Otero e Marina Oural e uma vocalista, a catalá Paula Grande. A produção musical, a cargo de Olivera Estudi, dá um novo aspecto ás criações de Guadi, entrando em campos electrónicos, sem esquecer a parte mais orgánica, criando texturas únicas dentro do pop.
Comentários sobre o post