O Interior, a Beira Alta, onde fui passar o fim-do-ano, porque apostei em revisitar as terras das minhas origens paternas, começa a estar deserto. Mais uns 15 anos, depois da ida, para outras paragens, dos mais idosos, e as terras da chamada província, vão ficar às moscas.
Venho desiludido, mas preocupado, com o que vi, ouvi e me dei conta. Nos cafés, nos restaurantes, nas ruas e no comércio meti conversa com o povo, o genuíno dessas terras. Uma maioria absoluta, com quem falei, não se conforma com o facto de estar abandonada.
“Estamos condenados a viver sem nada, principalmente sem saúde e sem políticas que promovam planos de desenvolvimento sustentado, tendo por base as riquezas que temos por aqui” – citei um empresário da região.
Muitos pomares de maçãs, com relevo para uma “casta”, a bravo de esmolfe, única no mundo que podia ser uma mais valia para a exportação. Queijo Serra da Estrêla com marca registada, ainda feito à mão, por produtores certificados, mas sem o coalho. Antes com o cardo, uma planta bravia que dá uma nota de sabor a esse queijo dos mais afamados do Mundo que poderia ser uma forte presença nos chamados mercados lusos da saudade, por este Mundo fora. Rebanhos de ovelhas, de cabras e de cabritos com potencialidades de exploração das respectivas carnes e, também, da lã das primeiras e da pele das segundas. O azeite, de castas tão generosas, como a galega, cobrançosa e cordovil, marca uma potencial presença na Região da Beira Alta. Por último, referência para as capacidades do Turismo. Um diamante, em bruto. A Beira Alta está abandonada por Lisboa. Tem boas estradas para se ir e vir, portanto, é fácil visitar e viajar por tudo quanto é lado. Estão lá as nossas mais pitorescas aldeias históricas. Há casas de turismo e alojamento local, de interiores soberbos, numa revisita a épocas de condes e de senhores abrasonados. As pinturas rupestres do Côa são um valioso convite. As paisagens são de romance, de sonho e agarraram-nos. A gastronomia é das melhores que temos por cá, por este nosso Portugal, assim como os vinhos, a doçaria e o queijo, a que se junta o requeijão apetitoso e bem casado com um doce de abóbora e de passas… Castelos, Vilas muralhadas, Igrejas antigas, ruelas típicas, casas tradicionais de granito, gente sã e boa que sabe receber e escancara as portas, quietude com sol e com a lua, mercados apenhados de produtos da terra, dos calejados por tanto mourejar, ainda, de sol a sol e penedia a perder de vista, quais pináculos de marcação de territórios…
Falta o comboio da linha da Beira Alta que, faz 3 anos, deixou de andar para renovarem a linha, mas sem a duplicarem. Falta que os Centros de Saúde funcionem em pleno, porque os Hospitais da Guarda e de Viseu ficam longe, para a maioria das populações. Faltam políticas que possam fixar pessoas. A maioria dos jovens foge das suas terras, as da Beira… Faltam incentivos para que professores, médicos e outros técnicos se radiquem nesse interior profundo. Quando políticos e senhores de certas Instituições do Estado, como a Anacom, Erse, ERC e outras recebem, por mês, chorudos vencimentos, acima de 10 mil euros, não é de estranhar que a malta jovem abale, até Lisboa, à procura de tachos que os partidos do Governo distribuem ou tire bilhete para o estrangeiro.
Portugal, nos últimos 35 anos, deixou-se levar por um regime cheio de tachistas e, também, por negociatas que esses e outros “comedouros” da política que se institucionalizou – expressão utilizada pela minha amiga Luzia quando se quer referir aos que, por Lisboa, fazem vida – cozinham nos biombos e nos corredores … dos teatros que sabem montar para tirarem dividendos das peças que são exímios em levar às cenas dos retábulos da Capital.
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