Liberalismo Escolar
Muito se falou nesta última campanha eleitoral e muito se tem falado acerca dos cheques-ensino e da posição da Iniciativa Liberal neste assunto. Mas muito também não tem sido falado nem debatido… A educação de um ponto de vista liberal não fica só pelos cheques e pela liberdade de escolha do estabelecimento de ensino a frequentar.
Um dos pilares do liberalismo é a liberdade. Liberdade de escolha, liberdade de pensamento, liberdade de gerir mais e melhor as escolhas que se nos deparam no nosso dia-a-dia. E foi uma dessas “escolhas” que me levou a escrever aqui hoje, a escolha entre usar fichas de trabalho ou adquirir materiais informáticos didáticos para os nossos alunos do ensino básico (aqui no concelho de V.N. de Famalicão).
Numa comunicação interna foi informado aos docentes e encarregados de educação de que a excelente decisão de adquirir materiais informáticos para serem usados nas escolas tinha sido revogada e que voltaríamos à decisão inicial de a Câmara Municipal oferecer as fichas dos cadernos escolares do 3º e 4º anos. Passo a transcrever a quase totalidade do comunicado, pois considero de importância crucial para refletirmos sobre algumas destas questões:
“Em reunião levada a cabo pelo pelouro da educação da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, a direção do Agrupamento, em consonância com todos os Agrupamentos de Escolas do concelho, (excetuando Gondifelos e Pedome por se tratar de escolas TEIP) optou pela dispensa dos cadernos de atividades nos 3º e 4º anos uma vez que o valor inicialmente previsto para a aquisição dos cadernos de atividades seria reinvestido em programas, projetos e recursos educativos da livre escolha pedagógica e curricular de cada Agrupamento de Escolas.
Teríamos, assim, a oportunidade de inovar os recursos educativos para que as aprendizagens essenciais pudessem ser consolidadas de formas diversificadas.
Atendendo ao facto de que a mensagem não terá sido acolhida da melhor forma quer por parte dos docentes quer por parte dos Encarregados de Educação, vimos dar conta de que, em articulação com o pelouro da Educação, se decidiu reverter a situação e, consequentemente, adquirir os cadernos de atividades para os 3º e 4º anos. […]”
Que decisão pedagógica terá sido invocada para justificar esta decisão de reverter a aquisição de materiais didáticos inovadores por cadernos de atividades?! Porque, tal como foi escrito, “teríamos […] oportunidade de inovar os recursos educativos” disponíveis para os nossos educandos e docentes. Quando me deparei com esta medida de aquisição dos equipamentos, aplaudi, porque vi algo positivo e que poderia fomentar o crescimento e desenvolvimento dos nossos educandos, bem como prepará-los melhor ainda para uma era cada vez mais digital.
Mas se fizermos uma leitura mais atenta, deparamo-nos com a palavra “parte”, parte dos docentes e parte dos encarregados de educação. Viveremos agora numa era em que a minoria vence a maioria?! Porque não foi toda a comunidade escolar consultada nesta matéria?! Porque são apenas alguns a ditar as regras e não a maioria ou até mesmo o todo?! Ou existirão razões de foro político por trás disto, quiçá favorecimentos pessoais e profissionais… Todo este secretismo leva-me a poder concluir mais uma vez que a mudança “dá trabalho” e os docentes visados não se querem atualizar, nem os encarregados de educação indignados têm a capacidade de ver o benefício pedagógico, social e pessoal que tal medida traria aos seus filhos. Mas mais importante que toda esta pequenhez mental por parte daqueles que não conseguiram acolher da melhor forma esta medida, quem estava presente para defender os interesses dos nossos educandos?! Estaria presente alguém imparcial, sem agenda político-económica?! Afinal de contas o sistema de ensino não tem como beneficiário maior os nossos alunos?! Ou continuamos a viver no tempo da outra senhora e a manter os mesmos métodos de ensino porque convém a alguns docentes e encarregados de educação com preguiça mental para se adaptarem aos novos tempos, às novas necessidades e às necessidades crescentes dos nossos filhos.
Aqui o “liberalismo escolar” beneficiaria todos os envolvidos porque teriam a opção e oportunidade de exercer a sua liberdade de escolha, escolha essa tendo sempre em vista o melhor interesse e benefício dos alunos/educandos.
Falamos tanto de tornar Portugal e os portugueses cada vez mais competitivos, preparados para os desafios nacionais e internacionais, com capacidades acima da média para vingarem na sua vida profissional e pessoal, e quando algo inovador aparece, cortarmos as pernas a tais medidas porque exige mudança de hábitos, porque dá trabalho acompanhar e mantermo-nos atualizados. São conclusões e dúvidas legítimas de serem levantadas dadas as circunstâncias atuais em que vivemos em Vila Nova de Famalicão.
Abdicamos tão facilmente de liberdades, direitos e obrigações, abdicação essa que chega a roçar por vezes o descuido, ignorância e conluio. Temos um dos melhores sistemas de ensino europeus, somos reconhecidos e valorizados “lá fora” de uma forma que “cá dentro” nem metade temos. Nunca esqueçamos que muito do sucesso dos nossos profissionais que estão emigrados se deve à educação académica que tiverem em Portugal. Agora imaginem se fossemos capazes de escolher livremente as escolas que os nossos filhos podem frequentar, tivéssemos capacidade e autonomia para decidir quais os critérios que melhor servem os interesses dos nossos filhos, lhes conseguíssemos proporcionar condições para serem os melhores dos melhores… onde poderia estar este nosso País, já tão grande e fantástico?!
Liberalismo não é “extrema direita” como muitas vezes oiço, liberalismo não é erradicar o Estado das suas funções sociais, liberalismo não é “uma anarquia”… Liberalismo é liberdade, liberalismo é capacidade de tomarmos decisões informadas e conscientes, liberalismo é podermos crescer sem limitações e sem barreiras, liberalismo é darmos as mão e lutarmos em conjunto por uma melhor sociedade, respeitada pela sua diversidade, em que todos podemos acrescentar ainda mais valor a uma realidade já tão grande.
Não podemos ficar silenciados quando nos retiram essa liberdade, essa diversidade de opinião, essa capacidade de criação de valor. Muitos foram os docentes e encarregados de educação que se indignaram junto de mim quando tal situação foi comunicada. Muitos são excelentes docentes que pretendem desafiar tal situação e não querem aceitar o conformismo como solução. E nós também não o deveremos fazer, nós como sociedade informada e com vontade para crescer, não podemos aceitar tais restrições e barreiras. Podemos chamar-lhe de muitas coisas, mas eu certamente chamo-lhe livre arbítrio, liberdade e liberalismo…
Ricardo Oliveira
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