Este texto é escrito neste mês, devido a mais um caso de exacerbada mentira, ainda
que não seja temporal. Infelizmente, o habitue da nossa classe política passa pela
mentira recorrente aos seus cidadãos. Não é de agora, mas alimenta-se a mentira nos
períodos de maiores dificuldades económicas, como o que hoje vivemos.
Comecemos, por uma das últimas, a questão da Galp que comunica, e bem, que lhe foi
informado pela Nigéria LNG que iriam existir disrupções na produção devido às
inundações. Ainda que a Galp não saiba se existirá impactos no abastecimento,
comunicou tal possibilidade, uma vez que é uma empresa cotada em bolsa. Logo de
seguida temos o Governo a afastar a possibilidade de falta de gás, sugerindo
“alarmismo” da Galp desnecessário. Já o cata-vento desvalorizou a possível existência
de corte de gás da Nigéria, afirmando que o Governo está a tomar todas as diligências.
Reparemos no que ninguém fala de a possibilidade dos preços subirem devido ao
possível não abastecimento de gás. Sobre uma viável verdade é que não interessa
falar.
Já a história da inflação é outra. António Costa dizia há uns meses que era passageira e
não estrutural e como tal não deveria ser motivo de preocupação. Quem não se
lembra que a 20 de junho (inflação a 8.7%) António Costa ter dito que não haveria “a
mínima dúvida” de que a lei que rege a atualização de pensões seria cumprida, para
depois referir, em setembro, que as “circunstâncias” se alteraram e que não era
possível cumprir a lei. Para que serve este jogo de “verdades”? Para evitar as críticas,
para ver se as pessoas se esquecem e não percebem. E claro, para o ego individual –
de super-herói.
Ou ainda a exposição deste Governo da “não austeridade” agora praticada, que é
antes vivida como o “orçamento para apoiar famílias e empresas”. Porque se falarmos
de austeridade vão pensar que António Costa não faz tudo pelos portugueses.
A verdade, e não é de hoje, sempre foi algo muito pouco rígida. Não é uma ciência
exata. Quando António Costa conta uma verdade, na realidade está a desenhar uma
nova história da realidade, sendo ela verídica ou não. O mais provável é existirem
definições que apresentem a verdade como algo verdadeiro dependendo do contexto,
do emissor e do recetor. António Costa é um hábil negociador da verdade.
Na verdade, o primeiro-ministro nunca nos mente, apenas conta uma narrativa,
apresenta um dado, desenquadra de um lado, enquadra do outro, reconfigura a sua
definição, e no fim, temos um facto que para aquele momento e para aquela
cronologia que é verdadeiro. Não nos mentiu, apenas descreveu os factos com muito
pouco rigor e descontextualizados. António Costa é um hábil contador de narrativas.
Quando olharmos para a história veremos que com Passos Coelho vivemos tempos de
“austeridade” e “contenção” e que com António Costa vivemos tempos fugazes de “8
mil milhões para ajudar empresas e famílias”. Na verdade, somos pobres com António
Costa tal como fomos com Passos Coelho.
Paulo Vigário
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