As tradições e o convívio são palavras-chave para a vida da comunidade de Arnoso Santa Eulália. Este Sábado, dia 17, Junto à Capela Nossa Senhora do Fastio, decorreu a habitual desfolhada do milho, que iniciou às 15h30.
O evento é organizado pela Associação de Concertinas Monte Santo André, com o apoio da Câmara Municipal e da Junta da União de Freguesias de Arnoso (Santa Maria, Santa Eulália) e Sezures.
A tarde estava quente, nem por isso demoveu os voluntários para a ceifa do milho. Entre os presentes, Manuel Carvalho, natural de Montalegre, adiantou-nos que a iniciativa o fez relembrar tempos idos, em que ajudava os pais nas lides da agricultura. Atualmente, a residir na freguesia de Arnoso Santa Eulália, mostrou-se satisfeito pela dinâmica da localidade e pela vontade de manter as tradições.
“Já há muitos anos que não exercia este ofício. Nunca pensei voltar a fazer a desfolhada. Ainda bem que vim parar aqui e estou contente por cá morar, pelos vizinhos que tenho, e por se ter mantido esta tradição porque faz-me relembrar a minha infância”, contou.
Carmo Novais também não estranhou o trabalho. Aliás, a agricultura e o campo fazem parte do seu quotidiano. “Eu gosto do que faço. Nós cantamos, rimos. Vivemos isto no dia a dia, e é uma forma de conviver, e de estar com os amigos”, começou por dizer.
Aliando o ofício ao convívio, revelou-nos a vontade de passar para os jovens a importância de trabalhar na terra e de dar-lhe o seu devido valor: “Isto (agricultura) vai ser o nosso futuro. A terra é o que nos dá tudo”.
Quem também nunca falha nas iniciativas promovidas na União de Freguesias de Arnoso (Santa Maria e Santa Eulália) e Sezures, é Amadeu Santos, que se assume um “homem da terra”. “Todas as atividades que são promovidas, eu estou presente”, vincou. Partilhou, também, histórias da sua infância e relembrou os tempos antigos, em que se valorizava mais o trabalho da terra: “Os meus pais eram labradores e nós (filhos) íamos ajudar os vizinhos, que nos ajudavam depois a nós. Era assim na altura. Assim se fazia o trabalho, sem custos”.
Ao longo da tarde não faltaram os incentivos para que a energia se mantivesse em alta. Desde as merendas, com pataniscas e presunto, às provas de vinho e o porco no espeto, foram vários os petiscos que deram o mote para que todos se juntassem à volta da mesa.
A noite caiu e os voluntários chegavam para arregaçar mangas para a desfolhada, que aconteceu ao som das concertinas e dos cantares populares. Um momento para as sardinhas, o caldo verde e sandes de porco no espeto.
Em jeito de balanço, o Presidente da Associação de Concertinas Monte Santo André, José Fortunato, destacou que pelo local passaram mais de 2 mil pessoas. Um número que ultrapassou todas as expectativas do grupo.
“Sinto-me muito feliz por ver tanta gente reunida. De um ano para o outro, aumentou para o dobro o número de pessoas, o que para nós é um elogio grande”, sublinhou.
O fundador daquela associação deixou, ainda, um apelo para que novas pessoas se juntem à Direção, de forma a prestarem apoio nos eventos futuros.
A vontade de dar continuidade estende-se também à Junta de Freguesia da União de Arnoso (Santa Maria e Santa Eulália) e Sezures. O autarca local, Jorge Amaral, congratulou o trabalho que é realizado pela Associação, “que mantem esta tradição, que é do Minho e que está ligada às concertinas. Nós, Junta de Freguesia e Câmara Municipal, juntamo-nos e ajudamos para que se mantenha a iniciativa”.
“Ver as pessoas nos bancos a desfolhar é muito bonito. Ver quando se encontra a espiga rainha também. É bonito voltar à tradição, para os mais novos também conhecerem”, destacou Jorge Amaral, acrescentando: “Estamos aqui para colaborar, reviver e não deixarmos morrer aquilo que os nossos antepassados viviam com alegria”.
O presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Mário Passos, visitou o evento, e juntou-se à animação da comunidade.
“É uma tradição muito bonita que queremos preservar. Estou aqui para, além da confraternização, demonstrar junto de todos, que quero que estas tradições se mantenham no tempo”, disse ao Famalicão Canal, após conversar com a comunidade presente.
A colheita do milho, considerado um dos cerais mais preciosos para o pároco Vítor Sá, permite uma reflexão para o futuro: “Em alguns lados existe em abundância e noutros em precaridade, então neste contexto, onde há tanta gente que dele necessita, é também um desafio para que olhemos para aquilo que colhemos, para aquilo que as nossas terras dão e reconheçamos o valor delas e o valor do fruto. Que aquilo que recebemos não é um bem banal, mas sim precioso, que pode matar a fome e mudar a vida de muita gente”.
Na iniciativa não faltaram também os mais novos, que se divertiam entre os cantares e as danças, integradas na moldura humana. Para o pároco, é um sinal positivo que comprova que também se está a semear a continuidade das tradições para o futuro: “Se queremos que daqui a 20 anos, Arnoso Santa Eulália ainda tenha festas vincadas e duradouras, é preciso fazer a sementeira. Hoje viemos aqui para colher, mas é necessário semear. E estarem aqui as crianças é sinal de um povo que sabe semear para colher mais tarde”.
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