No ano de 2008, o Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças decidiu criar o Dia Europeu de Sensibilização sobre os Antibióticos. Este visa alertar para o uso prudente e racional destes agentes antimicrobianos e celebra-se no dia 18 de novembro. Em 2015, a Organização Mundial da Saúde criou a Semana Mundial de Sensibilização sobre os Antibióticos, uma campanha global que acontece na semana que engloba o dia 18 de novembro (e que este ano decorre dos dias 18 a 24).
Mais recentemente, em julho de 2022, a Comissão Europeia, juntamente com os Estados-Membros, identificou a resistência aos antimicrobianos como uma das três principais ameaças para a saúde. Estima-se que mais de 35 000 pessoas morram anualmente na União Europeia em consequência direta de uma infeção causada por bactérias resistentes aos antibióticos. O impacto da resistência aos antimicrobianos na saúde é comparável aos impactos da gripe, da tuberculose e do VIH/SIDA combinados.
A resistência antimicrobiana ocorre naturalmente ao longo do tempo, geralmente por meio de alterações genéticas. No entanto, o uso indevido e excessivo de antimicrobianos ajuda a acelerar este processo. Em muitos lugares, os antibióticos são usados em demasia e de forma indevida em pessoas e animais, sendo muitas vezes administrados sem supervisão profissional. Exemplos deste uso indevido incluem o uso de antibióticos por pessoas com infeções virais, como constipações e gripes, assim como a administração destes medicamentos como promotores de crescimento em animais, ou para prevenir doenças em animais saudáveis.
Como resultado destas más práticas, os medicamentos tornam-se ineficazes e as infeções persistem no corpo, aumentando, quer o risco para o indivíduo doente, quer o risco de propagação a outras pessoas, nomeadamente daqueles mais suscetíveis (como os idosos e as crianças).
Todos estes fatores tornam evidente que a atuação nesta problemática deve ser transversal e multissetorial, dando relevância à noção de “Uma Só Saúde”, defendida pela Organização Mundial da Saúde. Neste seguimento, o tema para a campanha deste ano é “Everyone is responsible – todos somos responsáveis”, aludindo ao facto de todos os componentes deste sistema complexo serem de vital importância e esta responsabilidade ser uma luta de todos e para todos.
O Euro Barómetro Especial de 2022 sobre a resistência aos antimicrobianos revela que a compreensão sobre os antibióticos na União Europeia é ainda deficiente, pois apenas metade dos inquiridos estão cientes de que os antibióticos são ineficazes contra os vírus, e que continuam a existir grandes diferenças quanto à sensibilização dos cidadãos da União entre os Estados–Membros. Além disso, quase um em cada dez cidadãos da União toma antibióticos sem receita médica. Estes resultados demonstram a necessidade de aumentar e melhorar as atividades de comunicação e sensibilização sobre a resistência aos antimicrobianos e a utilização prudente destes a todos os níveis como meio de promover o conhecimento e a mudança nos comportamentos.
A prevenção e o controlo rigorosos das infeções, desde os cuidados de saúde primários aos cuidados hospitalares, não esquecendo os estabelecimentos de cuidados continuados como os lares, contribuem para combater a resistência aos antimicrobianos. A pandemia de COVID-19 mostrou a importância e aumentou a sensibilização para a prevenção e o controlo das infeções, nomeadamente no que concerne ao reforço das medidas de higiene e as boas práticas de proteção individual. Medidas gerais de segurança como a lavagem frequente das mãos, a etiqueta respiratória, o distanciamento social se tivermos sintomas, nomeadamente respiratórios, evitar ir trabalhar doente, e cumprir as indicações de vacinação, são vitais, quer para nossa proteção, quer para proteção dos que nos rodeiam.
No entanto tem-se verificado que estas boas práticas têm vindo a desvanecer. Acresce o facto de o uso de antibióticos ter aumentado este ano quando comparado com anos anteriores, nomeadamente de certas classes de antibióticos, cujo uso deveria de ser reservado para casos mais graves/hospitalares.
Reforça-se mais uma vez a importância e o papel central dos utentes, particularmente na correta utilização dos antibióticos quando estes são prescritos. Além de cumprirem as indicações do médico prescritor, devem ser seguidas as seguintes recomendações: tomar antibióticos apenas quando prescritos por um médico; tomar os mesmos nas horas definidas; cumprir os dias de tratamento indicados, mesmo que se sintam melhor; e nunca usar sobras de antibióticos ou compartilhar antibióticos com outras pessoas.
Como afirma a Direção Geral da Saúde na sua mensagem deste ano “Neste dia, e ao longo da Semana Mundial para a Sensibilização sobre os Antibióticos, pretende-se alertar para os riscos do uso inadequado dos antibióticos. O uso excessivo e desadequado gera um aumento das resistências das bactérias a estes medicamentos e, por consequência, reduz a sua eficácia”. Esta será então uma responsabilidade partilhada por todos, já que se trata de um problema de saúde pública global.
Por: Carlos Miguel Magalhães
Médico Interno de Saúde Pública no Aces Ave Famalicão
Unidade Local do Programa de Prevenção e Controlo da Infeção e Resistência aos Antimicrobianos
PS: Mais informação sobre este tema pode ser encontrada nos sites e redes sociais da Direção Geral da Saúde, do INFARMED, do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças e da Organização Mundial da Saúde
Comentários sobre o post