“Reuni com um reconhecido e conceituado empresário, no dia de ontem.
Uma parte, a mais alargada do encontro, passámos na análise dessa invasão, longe dos nossos corações, mas perto dos nossos olhos. Uma invasão terrorista, anticivilizacional, primitiva e despropositada.
Como não somos estrategas militares, políticos e sociólogos, debruçámo-nos sobre as consequências – desastrosas e comprometedoras – para toda a humanidade, com especial relevância para os Países pobres com povos em dificuldades, nomeadamente para se alimentarem; e, também, para as outras Nações e para a própria Rússia, em razão das sanções que têm efeitos multiplicativos e colaterais.
O meu amigo empresário, a dada altura, vira-se para mim e confidencia-me: ”por força das sanções fiquei sem o pagamento de, por parte de clientes russos, cerca de uns 250 mil euros”.
E com a voz mais embargada: “tenho, em armazém, uma encomenda que estava para sair, por estes dias, de valor quase igual”.
Estremeci. Olhei o infinito, projectado no tecto da sala, como que a buscar sentido para o que acabara de ouvir. Saltou-me a imagem de Putin, esse homem de fel, de venenos, de arrogância, de poderes e de maldade que, como outros, pretenderam ter na mão, os mundos, os deles e os dos outros…
“Mas soube, poucos dias atrás, que algumas das nossas Adegas e avalisadas casas vinícolas vão passar tormentas por terem valores a receber, de lá da Rússia, de mais de uns 60milhões de euros”.
“António, o mais sério é que não vai ficar por aí. Disseram-me que a Amorim, com forte presença na Rússia, com exportações da ordem de muitos milhões de euros (rolhas e aglomerados para isolamento de frio, em casas e não só), além de estar com posições na Polónia, Hungria, Moldávia e Bulgária e, ainda, em mais de 12 Países, incluindo a China, pode vir a atravessar problemas” – adiantou-me o meu amigo empresário.
E, fora o sector em que o meu interlocutor tem uma enorme dimensão (por respeito e pelos laços de amizade/lealdade, dispenso-me de o apresentar e de dizer de quem se trata), a nossa capacidade exportadora, em importantes domínios, a qual tem crescido, vai sofrer demasiado, e com toda esta situação, um forte revés, aliás, que terá, dentro de uns 6 a 8 meses, caso a guerra se prolongue o que é de admitir como o referem especialistas, prejudicando as nossas contas e, também, provocando rombos no mundo labor.
Esta guerra, imposta pela visão e pela ganância expansionista de Putin, numa cavalgada de reintroduzir e de fazer renascer a força do marxismo, não pode passar-nos ao lado. Mesmo aos que continuam, ingenuamente e por crendice ideológico-política, a apostar no cavalo que transporta todas as putinices e a sua deriva marxista, importa afirmar que vão ser vítimas, também, de todos os resultados que a guerra está a fomentar, de todos os pontos de vista.
Vivemos um tempo, depois de uma pandemia que nos trouxe angústias, preocupações, incertezas e mortes, de grande aflição, de agitação social e com o horizonte carregado de procissões de miséria, de fomes, de sangue, de retaliações, de cenas macabras e de multidões a fugir dos caminhos que as guerras, sem o mínimo de humanismo, abrem…deixando milhões cravados por imagens que lhes esfrangalham os sentimentos e os incendeiam de medos.”
António Barreiros
Jornalista
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