Uma análise desapaixonada percebe a extensão e a gravidade do que está em causa, desde os órgãos próprios representativos da autonomia insular, às autarquias, até aos partidos, leia-se partido, tudo está em causa, por suspeitas de corrupção. Só escapa o eterno representante da república. Então é este o MODELO de Paulo Rangel?
Na edição de 16 de abril de 2025, o “Correio da Manhã” noticia uma declaração de Paulo Rangel, ministro de estado e dos negócios estrangeiros, referindo-se ao acto eleitoral do próximo dia 18 de maio, dizendo que a vitória do PSD Madeira, era a opção, do povo madeirense, pela estabilidade, e que isso deveria servir de MODELO para o país.
Fiquei atónito com esta atoarda, absolutamente grosseira, quase obscena, com aquilo a que um ministro da república aponta como modelo para o País.
Cada um puxa a brasa á sua sardinha, diz o povo, na sua tradicional sabedoria, mas quando a sardinha está “moída” o povo, sem hesitações, lança-a para o lixo.
Sem qualquer pretensão partidária, que não apenas analisar de forma imparcial, séria e serena, vejamos de que modelo estamos a falar, ou melhor que modelo nos recomenda Paulo Rangel.
O povo madeirense pronunciou-se, aqueles que se dispuseram a ir ás urnas, porquanto outros prefiram não dar para o peditório, enfim, democracias.
O povo madeirense lá saberá o que é melhor para eles, mas os factos são estes:
O ano de 2024, viu a operação “ab initio” da polícia judiciária lançar uma investigação “in situ”, envolvendo vários alvos, que é como quem diz suspeitos em investigação. Quem são esses alvos?
Desde logo o suspeito mor, e começamos pelo governo da região autónoma da madeira, o Presidente do Governo Regional da Madeira, o Secretário regional das finanças, o secretário regional do equipamento e o secretário regional da saúde, todos, então, no activo, ou seja, em 8 membros do governo madeirense, 4 foram visados pela justiça. Acresce ainda o ex-secretário regional da agricultura, do primeiro mandato governamental de Miguel Albuquerque, e antigo Presidente da câmara municipal de são vicente, nos tempos de Alberto João Jardim.
Passando á assembleia legislativa da região autónoma da madeira, o visado pela justiça foi nada mais nada menos que um dos vice-presidentes, o número dois, daquele órgão, que é simultaneamente o secretário geral do psd regional.
Ao nível das autarquias locais, o Presidente da câmara municipal do Funchal, foi visado, ele que no passado fora secretario regional das finanças e vice-presidente do governo regional, no primeiro mandato de Albuquerque, na quinta vigia, e num passado ainda mais remoto chegou a ser o vereador e vice-presidente da Câmara Municipal do funchal durante o consulado de Miguel Albuquerque.
Ainda no perímetro da responsabilidade governativa madeirense, foram visados o ex-director regional da agricultura, e o Presidente do conselho diretivo do instituto de administração e saúde, se considerarmos que a madeira tem á volta de 180 direcções regionais, o rácio até nem é mau.
Ao nível das autarquias locais, igualmente visado foi o Presidente da câmara municipal da calheta e simultaneamente presidente da associação de municípios da região autónoma da madeira.
Alguns foram detidos e presos. Posteriormente devolvidos á liberdade, mas todos constituídos arguidos e com Termo de identidade e residência.
Este é pois um modelo em que ao nível dos órgãos próprios representativos do povo madeirense, metade do governo foram visados, e constituídos arguidos por suspeita de corrupção.
O seu Presidente só não foi preso graças á proteção de exceção que o cargo de conselheiro de estado, por inerência, permite.
Na assembleia legislativa a segunda figura mais importante do órgão, está envolvida também, e logo ele que também é o secretário geral do psd.
Nas autarquias locais, um presidente de câmara, logo o que tem simultaneamente a presidência da associação que representa TODOS os municípios da região autónoma, envolvido também.
Uma análise desapaixonada percebe a extensão e a gravidade do que está em causa, desde os órgãos próprios representativos da autonomia insular, ás autarquias, até aos partidos, leia-se partido, tudo está em causa, por suspeitas de corrupção. Só escapa o eterno representante da república.
Então é este o MODELO de Paulo Rangel?
Todos sabemos que “in dúbio pro reu”, e todos os arguidos serão inocentes até prova em contrário, com sentença transitada em julgado, e estes arguidos gozam deste direito, naturalmente, até porque não seria a primeira nem a última vez que um cidadão vai á barra do tribunal como arguido e sai de lá como inocente.
Mas á mulher de César não basta ser, tem de parecer também, e na operação “ab initio”, os arguidos até podem ser, mas lá que não parecem isso não parecem.
Suspeito que o “modelo” a que Paulo Rangel se estará a referir não é tanto á culpa ou falta dela dos arguidos, madeirenses, mas á limpeza da ficha do cadastro que um pleito eleitoral pode garantir em termos de percepção.
E isso compreende-se, perfeitamente, pois daria um jeitão a nível nacional, numa altura em que TODOS os dias temos novidades negativas, sobre um Primeiro Ministro atolado no pântano de atitudes, praticas e suspeições sobre a sua pessoa, de quem poucos dirão ser impoluto, honesto e sério. Ora as eleições vêm mesmo a calhar, é essa a premissa deles.
A cereja no topo do bolo, é que o MODELO madeirense foi entusiasticamente apoiado pelo Primeiro Ministro e Presidente do PSD, nisso sendo lealmente acompanhados pelo seu governo e partido, como se vê pelo comentário noticioso de Paulo Rangel.
Isto só falta, no final, tudo ser regado com uma poncha.
São este os factos. Alea jacta est (os dados estão lançados).”
Oliveira Dias, Politólogo
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