Aviva-se a minha memória com o falecimento de quem muito deu, em jeito de missão pessoal, profissional e de cristão, ao projecto Rádio Renascença, Fernando Magalhães Crespo.
Enfrentou os tempos quentes da vida do País quando, as forças do COPCON e a esquerda radical, representada pelo PCP, quiseram tomar os estúdios dessa emissora, ao Chiado, em Lisboa, para silenciar a voz livre que se difundia, nessa altura, pelo nosso País. Mas incendiaram os emissores da Buraca-Lisboa e quase tomaram de assalto os estúdios do Porto e, ainda, tentaram rebentar com a principal antena difusora da RR, a que se encontra no Trevim-Lousã.
Tempos difíceis que Magalhães Crespo soube enfrentar com a sua determinação, diplomacia e diálogo. Era um Homem de convicções, astuto, inteligente, sagaz e moderado na linguagem, mas cidadão de fino trato e clarividência. Um beirão de cepa.
Trabalhei, como jornalista-correspondente, na Região de Coimbra, durante uns 13 anos consecutivos, de 1977 a 1990. A estima que me dispensava era grande, porque – penso – terei sabido, como profissional da comunicação social, elevado a sublime qualidade informativa da Estação de Inspiração Cristã e, também, consegui levantar problemas de cariz social e humano que eram e são caros ao Estatuto Editorial da RR.
Uma das situações que guardo na minha memória, quando, uma ou outra vez, me convidou para almoçar com ele na sala do Conselho de Gerência, na Rua Ivans, em Lisboa, era o facto de ele fechar os olhos – penso que passaria pelas brasas, como se costuma dizer – mas atalhava, a espaços, o diálogo, o que certificava que, apesar de embalado, continuava atento e escutando.
Outra que lhe dá o seu cunho de homem bom e recto: quando abandonei a RR, em 1990, para ingressar na RDP/Centro-Antena 1, convidou-me para almoçar. Levei o gravador de cassetes, um Philips, que me havia sido entregue quando entrei para a RR. Olhou-o e disse à secretária para mandar chamar o Chefe da Técnica, mas sem nada me dizer. Fiquei expectante. Quando esse senhor chegou, o engo. Magalhães Crespo apresentou-me e atirou-lhe: “ora veja este gravador entregue ao António em 1977. Está novo. Lavre uma Declaração com o nome dele, para eu assinar, porque merece que o ofereça como penhor de ter sabido cuidar do que lhe foi posto nas mãos. Um exemplo” – concluiu.
Nesta data do passamento desse Senhor e Homem que me apetece rotular de o Homem Renascença, ergo o meu olhar ao céu para o saudar, pedindo ao Pai que o receba na Casa da Eternidade com as Suas mãos estendidas.
Ao Magalhães Crespo agradeço tudo quanto fez por mim, contribuindo para que tivesse sido mais pessoa, cidadão e profissional. Até sempre. Bem-Haja, por tudo.
Foto: Agência ECCLESIA
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