A freguesia de Fradelos vai realizar, este carnaval, uma das suas tradições mais antigas. A Queima do Galheiro está de volta, em dose dupla. Ferreirinhos e a Quinta no Sapugal são os dois lugares de Fradelos em que se vai dar continuidade à história, e as preparações já arrancaram no início do mês.
Este sábado, dia 12 de fevereiro, membros da comunidade de Fradelos reuniram-se em Ferreirinhos, para começar a montar o Galheiro, que vai ser queimado já no próximo dia 1 de março.
Noutros tempos, esta era uma tradição com traços muito diferentes. Ocupava vários lugares da freguesia e o próprio Galheiro tinha apenas cinco a seis metros. Este ano, estima-se que atinja entre os 15 e os 18 metros.
Adelino Costa, Presidente da Junta de Freguesia, vê nesta festa uma oportunidade para que as comunidades possam voltar à rua e conviver, sempre em segurança. “Vamos festejar. Já que o concelho está carente de festas, Fradelos vai começar a pôr a comunidade alegre e a viver como antigamente”, salientou com satisfação.
O desfile de Carnaval não se realiza devido às restrições da pandemia, porém, ganha novamente vida a Queima do Galheiro, que como refere o autarca, “é uma tradição de Fradelos de há alguns anos”.
O convite para assistir e participar nesta festa estende-se a todos os famalicenses: “Convidamos e fazemos todo o gosto para que todos venham para assistir a um evento que faz parte das nossas raízes tradicionais”, salienta com orgulho.
Esta é uma tradição que se faz também da envolvência das pessoas. José Manuel Veloso, um dos fradelenses que prestou apoio nas preparações que decorreram no passado sábado, revela que antigamente a tradição era «muito diferente». Envolvia picardias e disputas, sempre com um aspeto lúdico e de entretenimento.
“Antigamente era mais bonito. Cortávamos as silvas oito dias antes, e roubávamos uns aos outros, por causa dos lugares. O terreno era em terra, ia-se ver por onde estava o risquinho das silvas. Depois havia os conflitos entre uns e outros e até se chegava lume um dia antes. Havia picardias que eram interessantes, mas hoje não há nada disso”, relembra.
O seu pai, Celestino Veloso, foi o responsável por lhe incutir este gosto e que lhe deu a conhecer esta realidade na sua forma original. “Um galheiro tinha antes quatro ou cinco metros, era em cima de um carro de bois, com forcado e não havia máquinas. Agora é que se exagera lá para cima na altura”, assinala.
José Manuel fica satisfeito ao ver todos reunidos nesta tarefa, no entanto, pondera que atualmente se faça mais por «vaidade» e com a premissa de que “quanto maior alto for melhor”. Apesar das mudanças, defende que o importante é dar continuidade.
Celestino Veloso, o dono da propriedade, onde se monta o Galheiro, recorda também com nostalgia como era esta tradição quando era mais novo: “Eram diversos galheiros e animava a gente da aldeia. Vivíamos à nossa maneira. Era bonito. Hoje há outras coisas, mais divertimentos que puxam as pessoas de forma diferente. Naquele tempo era as pessoas só daquela aldeia e faziam o galheiro só durante uma tarde”.
Para que as tradições se mantenham é necessário que passem de geração em geração. É o caso da família Veloso. Celestino vem acompanhado do filho, José Manuel Veloso, e também do neto que já o ajuda na poda. O importante como refere, é “acompanhar o ritmo” e nisso, admite que são os filhos que ajudam.
“Eu não gosto de perder as tradições antigas”, avança, relembrando uma outra herança do Galheiro – as buzinas. Na aproximação aos dias da queima, em cada casa, as pessoas tocam a buzina no local para avisar que há o Galheiro. É uma forma de anunciar que a festa está a chegar.
De facto, a ânsia pelo convívio é visível em toda a população. Esta será uma festa de peso em Fradelos que conta também um cartaz promissor. Quim Barreiros é o destaque da programação. O artista sobe a palco na noite do dia de Carnaval, a 1 de março, a partir das 21h00. O dia de Carnaval em Ferreirinhos vai contar ainda com jogos tradicionais, às 15h30, porco no espeto, às 18h00, o Concerto Comunitário Queima do Galheiro, às 20h30. Depois, a tão esperada Queima, às 22h00 e a sessão de fogo de artifício às 23h00.
No entanto, a festa começa a 26 de fevereiro. Nesse dia, vai ocorrer um concerto de música popular e desgarradas, às 19h30, com petiscos servidos no local. No domingo, 27 de fevereiro, faz parte da programação o convívio e jogos tradicionais. Na noite de véspera do Carnaval, o Grupo Teixeira e Amigos promete animar o recinto, a partir das 21h00.
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