Ah, Nine, a pérola famalicense que nos comboios da vida ganha uma pronúncia que faria qualquer britânico ou americano parar de mastigar o seu scone ou bagel!
É de uma elegância linguística que beira o surrealismo. Portugal, país de grandes descobridores e navegadores, que tanto prezou a sua língua, decide, neste recanto minhoto, fazer uma homenagem digna de um musical da Broadway. Não é só Nine, é “Nãine”!
Imaginemos a cena: o revisor, com aquele sotaque do Norte que é a nossa identidade, a avisar: «Próxima paragem: Nãine!». É um momento de pura ironia sonora. Uma vila que carrega a sua história e nome com dignidade é subitamente transformada, na voz do maquinista, numa contagem regressiva em inglês.
Isto é mais do que uma estação; é um portal transatlântico. Os passageiros que chegam a Nine não chegam apenas a uma freguesia de Famalicão; chegam, metaforicamente, ao número nove do idioma de Shakespeare. Quem sabe se não devíamos mudar a grafia oficial da freguesia para ‘Nain’ ou até ‘9’, para facilitar a vida dos altifalantes e celebrar este pioneirismo fonético?
Os turistas estrangeiros, coitados, ficam perdidos. “Então, onde é o número oito? E o dez?”, perguntam, tentando decifrar o mistério da série numérica incompleta. É o nosso muro de Berlim fonético, uma barreira sónica que separa o português da… internacionalização forçada.
Mas, sejamos justos, talvez seja apenas uma subtil estratégia de marketing. Afinal, um nome que é um número em inglês é muito mais memorável. “Vou apanhar o comboio para o ‘Nove’!”, dirá o emigrante a regressar. E todos entenderão a mensagem subliminar: a ferrovia de Nine está sempre no topo da contagem!
É uma pequena e gloriosa prova de que, em Portugal, a criatividade (e, ocasionalmente, a confusão) floresce em todo o lado, até nos anúncios de comboio.
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