Créditos: Associação Académica de Coimbra / OAF
Eu era um moço. Um pequeno rapaz que sonhava com a bola. A minha Académica, a de Coimbra, o meu símbolo da equipa que me movia a assistir aos jogos.
Artur Jorge, o que hoje faleceu, passou, como outros, a ser estudante e, nas horas livres, a dar uns pontapés na bola, tendo sido jogador da equipa principal da formação dos estudantes da Cidade do Mondego. Frequentou, na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, o Curso de Filologia Germânica.
Tinha génio, arte e habilidade para, na frente, dar uns toques, posicionando-se, como atacante, para marcar na baliza do adversário. Deu muitas alegrias há minha Académica. O seu irmão, já falecido, o António Jorge, foi meu colega de estudo. Artur Jorge, sempre disposto a dar a mão, acompanhou as dificuldades de vida do irmão. Tentou desviá-lo do vício que tomou contou dele, mas apesar da dedicação, não travou o seu caminho para a morte. Sei que A. Jorge sofreu com o falecimento do irmão, porque homem de fortes sentimentos humanos.
O “Rei Artur” aprendeu a ser um Senhor numa das mais antigas Universidades do Mundo, a vetusta Universidade de Coimbra, onde se movimentou, como milhares, na sua irreverente Academia.
Não é a jornada de jogador, de uma boa parte da sua vida, que mais me importa.
Não deixo de valorizar a carreira futebolística – muito sumariamente – de Artur Jorge que, e quando nos deixa, quero saudar: andou pelo FC Porto; pela Briosa, a de Coimbra, da Academia; pelo Benfica e pelo Belenenses. Foi Campeão Europeu – 1986/87 – pelo Porto, em Viena de Áustria, contra o Bayern de Munich como treinador.
De recordar que, no ano em que treinava o Benfica (1994-1995), foi submetido a uma intervenção cirúrgica a um tumor na cabeça, tendo resistido, apesar do grau de gravidade.
Quero, também, deixar a sua mancha humana de homem que passou, pela sua postura de “gentleman” e de cidadão humilde, de forma subtil e inteligente, pela vida e pela área desportiva.
De linguagem certinha e de discurso escorreito, Artur Jorge posicionava-se, no futebol, como uma figura que não utilizou “patacoadas”, termos brejeiros ou palavras baixas para atacar os adversários. Ele sabia ter elevação educacional e continha-se quando empregava comentários.
Fica o seu registo sóbrio, inteligente, cívico e com um toque de cidadão de narrativas que enobreceram e prestigiaram o futebol que, e como sabemos, ultimamente, tem conhecido termos, episódios e histórias que nada abandonam a essa modalidade e que nos têm trazido, para a ribalta da vida nacional, alguns dos mais medíocres actores, os que se entregam a espalhar o ódio e as divisões …
Nesta hora da perda de Artur Jorge, em meu nome e do Famalicão Canal, fica uma palavra solidária a toda a família. O Futebol nacional e internacional deixa de contar com uma das suas mais ilustres figuras e, ainda, uma das mais sublimes, no domínio cultural e educacional, personalidade do desporto rei.
Que a Eternidade acolha Artur Jorge.
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