O estado do Serviço Nacional de Saúde (SNS) é o calcanhar de Aquiles da política portuguesa, marcado por urgências saturadas, falta de médicos de família e listas de espera intermináveis. A resposta imediata e, hoje, quase ritual, da oposição é a crítica veemente e o pedido de demissão da Ministra da Tutela. Mas a insistência neste “bota-abaixismo” ofusca o verdadeiro desafio e impede as soluções.
A crítica da oposição é legítima e faz parte do seu papel fiscalizador: apontar falhas na gestão pública, denunciar o recurso a tarefeiros e combater visões ideológicas distintas sobre o futuro do SNS. Contudo, o foco excessivo no pedido de demissão — uma tática de pressão e capitalização política — revela-se estéril perante a dimensão da crise. Uma nova “cabeça” no Ministério não curará um sistema doente há anos.
O Dilema da Oportunidade Política
A Saúde toca diretamente a vida de todos e é um campo fértil para o ganho eleitoral. A oposição, que até pode ter a sua pesada herança de governação no setor, usa o descontentamento popular para se demarcar e desestabilizar. Esta moralidade política seletiva — criticar hoje o que não se resolveu ontem — é a maior barreira à cooperação.
A pergunta que se impõe é: Será que o país não ganharia mais se a oposição trocasse o grito de guerra pela apresentação ativa e apoio a soluções estruturais?
O Caminho para a Solução (e Não Apenas a Crítica)
O problema da Saúde é sistémico, resultado de anos de desinvestimento crónico e má gestão. A solução, portanto, exige um Compromisso Nacional que retire a gestão do SNS da esfera da política de curto prazo e da luta partidária.
O foco deve mudar urgentemente do “quem tem a culpa” para o “o que podemos fazer”:
Governança Estável: Definir um plano estratégico plurianual (imune às mudanças de governo) com aumento efetivo e inteligente do investimento.
Prioridade nos Cuidados Primários: Reforçar os Centros de Saúde e USF para descongestionar as urgências hospitalares.
Valorização dos Recursos Humanos: Criar carreiras atrativas para fixar profissionais no SNS e eliminar a dependência dos tarefeiros.
Cooperação Ativa: O Governo tem a responsabilidade primária, mas a oposição tem o dever de ser um parceiro construtivo no debate de soluções.
O SNS, a maior conquista social de Abril, não pode continuar a ser um campo de batalha política. A crise exige que todos os partidos atuem como se estivessem no mesmo “barco“, remando na mesma direção. O verdadeiro serviço público reside em construir, e não apenas em criticar o que está a ruir.
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