“A condição precária na arte, na espiritualidade, na economia, nas migrações e na cultura” foi o tema dominante abordado, por nomes reconhecidos da vida nacional – Bagão Félix, Eugénia Quaresma e Rui Spranger – no painel principal da 16.a Jornada Nacional da Pastoral da Cultura, que decorreu este sábado, em Fátima.
Para o Rui, actor e encenador, responsável por uma Instituição do Porto, de apoio aos colegas de profissão e a outras pessoas com dificuldades de vida, existem problemas sérios no mundo dos espectáculos, agravados com a pandemia, vertidos na precaridade de trabalho.
Opinou que a cultura e a sua dimensão nacional mostra que estamos a esvaziar-nos de culturas, numa crítica ao que não temos feito neste domínio.
Já para Eugénia, mulher ligada às migrações, não é legítimo fazer dos que chegam, de outras paragens, os escravos do nosso tempo, dando-lhes vencimentos menores e piores funções. Comentando com o repórter do “Famalicão Canal”, que a interpelou, sobre a necessidade de se saber acolher com políticas de integração, tendo como pano de fundo as diferenças culturais, pessoais, educacionais, sociais e outras dos que procuram Portugal para trabalhar, a mesma palestrante corroborou as nossas palavras. Insistiu, contudo, que é legítimo emigrar mas é, também, um direito não o fazer, enfatizando que os Países que fornecem migrantes devem oferecer melhores condições de vida.
Bagão Félix, com um discurso a que já nos habituou – esclarecido e desperto em ideias – clarificou que a precaridade cria fragilidades mas é imprevisível, no tempo que vivemos, mais do que no passado. Falou que atravessamos uma sociedade bipolarizada, entre vencedores e perdedores; pobres e ricos; aldeões e citadinos; velhos e novos; etc. .
O jornalista, do nosso Órgão de Comunicação Social, falou-lhe da chamada “engenharia financeira” com que os políticos e os governantes nos brindam para nos darem números que potenciam bons resultados económicos, mas falham no social. O ex-ministro e docente universitário corrigiu-nos para proteger os engenheiros e oferecer mordaz crítica: “são serralheiros financeiros…”.
Lamentou que caminhemos com a exaltação da morte, promovendo a eutanásia, amarfanhando o nascimento, a vida. Bagão Félix exortou as comunidades a passar testemunhos dos mais velhos e fazer deles um alfobre de ensinamentos e de experiências. Criticando o princípio da subsidiariedade do Estado, disse que a primeira solução para os problemas humanos, a que se juntam os sociais, deve partir do núcleo da família. Temos também, como quis sublinhar, presentemente, uma precaridade geracional.
O Director do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, o Prof. Doutor José Seabra Pereira, docente jubilado da Universidade de Coimbra, em nota emanada sobre a presente Jornada, revelou que a precaridade redunda, muitas vezes, em desemprego e abandono. Considera, no mesmo texto, que o cristão deve ter noção da precariedade e, na sua responsabilização nesse domínio, tem de assumir o seu papel social e humano, para que essa realidade se desvaneça e haja plenitude de dignidade.
António Barreiros
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