Cerca de 4.450 doentes com cancro ficaram por identificar devido à redução dos rastreios durante o período de pandemia. O estudo foi divulgado esta quarta-feira, 3 novembro, pelo Movimento Saúde em dia, com base numa análise aos dados oficiais do Serviço Nacional de Saúde.
Para analisar o impacto da pandemia covid-19 na prestação de cuidados de saúde em Portugal, foram comparados os dados disponíveis referentes ao ano de 2019, 2020 e 2021, com a estimativa dos dados para os últimos meses em falta.
O estudo revelou assim que ficaram por realizar um total de 14 milhões de consultas entre 2020 e 2021 e foram adiadas cerca de 100 mil cirurgias programadas. Foram realizadas menos 18% de mamografias, menos 13% de rastreios ao cancro do colo do útero e menos 5% ao cancro do cólon e do reto comparativamente com 2020.
Também a incidência do cancro da mama reduziu, entre 2021 e 2020, em 2% (menos 19% entre 2020 e 2019), a do cancro do colo do útero 15% (menos 25% entre 2020 e 2019) e a do cólon e reto 9% (menos 22% entre 2020 e 2019).
Os dados estimam que 148.845 mulheres não tenham feito mamografia nos últimos dois anos, sendo que 1.868 mulheres com cancro de mama terão ficado por identificar.
Já 158.045 mulheres não realizaram colpocitologia, estimando-se que 399 com cancro do colo do útero tenham ficado por diagnosticar, e 83.779 utentes não fizeram rastreios do cancro do cólon e reto, prevendo-se que 2.155 doentes não tenham sido diagnosticados.
As conclusões do estudo, que serão divulgadas esta quarta-feira, 3 de novembro, em Lisboa, pelo Movimento Saúde em Dia, constituído pela Ordem dos Médicos (OM), a Associação Portuguesa dos Administradores Hospitalares e pela Roche, indicam que “a atividade em 2021 está a ser insuficiente para recuperar o que ficou por fazer durante a pandemia”.
“A incidência de neoplasias mantém a tendência decrescente de 2020, evidenciando que muitos casos de novos cancros ficaram por identificar durante os anos de pandemia“, salientou o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães.
“Isto significa que em sete pessoas há uma que tem cancro da mama e não sabe, em cinco pessoas, há uma que tem um cancro do colón e reto e não sabe, em seis pessoas há uma que tem um cancro do colo uterino e não sabe“, esclareceu o bastonário.
Miguel Guimarães observou que mais de 1.100.000 utentes continuam sem médico de família, o que é “particularmente grave” associado ao “atraso colocado pelo excesso de tarefas covid-19 que o Ministério da Saúde deu a uma grande parte dos médicos de família“, uma situação que é preciso resolver.
A nível hospitalar estima-se que os valores de consultas e cirurgias em 2021 estejam em linha com 2019. Mas, apesar da retoma, estes valores “são insuficientes” para recuperar a atividade não realizada em 2020, estimando-se que nos últimos dois anos tenham ficado por realizar mais de 2,8 milhões de consultas presenciais, cirurgias programadas e episódios de urgência graves comparativamente com 2019.
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