A Palavra do Ano: “apagão”
“Apagão” foi eleita a Palavra do Ano 2025.
Ainda nos recordamos do dia 28 de abril deste ano quando transportes, comunicações e serviços ficaram afetados. Num instante, os nossos dias, marcados pela rotina, cheios de luz e sentido… no instante seguinte, mergulhados na escuridão mais escura, onde a dúvida e a tristeza voltaram a abalar os nossos hábitos.
Todo o digital desvaneceu-se com o apagão… e iluminou-se o real, o essencial: dar valor ao dia a dia, ao nascer e ao pôr do sol, ao jardim, às pessoas, às relações, aos rostos, à caridade e entreajuda, à alegria, ao cuidado da memória e da esperança com tempo e sem pressas, pois “Deus não passou por nós a correr” (José Augusto Mourão, A Palavra e o Espelho, 19), etc.
Por falar em espera…o Advento da Alegria!
Sabemos, que o mundo gosta de falar de esperança… mas não gosta do preço que ela cobra: confiar no que não se vê, manter-se firme no tempo, acreditar quando tudo parece perdido. Como dirá o mestre da esperança, S. Paulo: «esperar contra toda a esperança» (Rm 4, 18).
Somos desafiados a manter os olhos abertos, mesmo quando tudo parece cinzento. A não adormecer nas distrações ou apagões da vida. Mas a confiar… mesmo quando parece noite e a amar e abraçar a imperfeição, ou seja, a estar atento e de olhos abertos contra o cínico. Significa perguntar, escutar e estar presente. Significa agir, sem julgar, oferecendo cuidado e apoio profissional quando necessário, mostrando que «nenhum caminho será longo» (J. T. Mendonça, Nenhum Caminho será longo).
Neste tempo favorável de Advento, a espera da vinda de Jesus Menino à nossa vida de todos os dias, traz-nos uma novidade à repetição desencorajante dos nossos dias monótonos e uma “gestação espiritual” (Card. José Tolentino Mendonça, Esperar contra toda a esperança, 18).
Este tempo da novidade de Deus confirma que não estamos entregues ao absurdo, ao medo e ao terror, mas à alegria, porque é tempo habitado pela luz da graça do Emanuel – Deus connosco! “O «Eu sou aquele que serei» manifestado a Moisés revela-se no Natal: o nascimento de Jesus em Belém é o nascimento de Deus com o homem” (J. A. Mourão, 12). Com efeito, esperamos aquele por quem o coração anseia (Adélia Prado): a verdadeira e definitiva Alegria!
Por isso, importa perguntar por ela: onde está a nossa alegria? Importa estar atento, vigilante a este estilo de vida cristã, a Alegria, que urge procurar e assumir para contrariar o sarcasmo, a indiferença, o lamento e o cinismo que ritmam os nossos dias!?
Um clarão de alegria e esperança
Neste Natal, somos convidados a deter-nos diante do mistério da Encarnação. Deus faz-Se próximo, entra na nossa história e ilumina, com simplicidade aquilo que muitas vezes nos pesa ou inquieta.
À luz do Natal, este Jubileu ganha ainda mais sentido: a esperança cristã não é um sonho vago, mas a certeza de que Deus não abandona o mundo e continua a semear, mesmo quando tudo parece frágil.
Efetivamente, Ele conta connosco para cuidar deste “Jardim da Esperança”: pois cada comunidade do nosso Arciprestado de Vila Nova de Famalicão é convidada a cultivar este jardim com gestos simples: uma palavra de ânimo, um perdão oferecido, uma visita, uma presença discreta e fiel.
Que cada acontecimento nos desperte e nos faça olhar, escutar, agir. E que este Natal reacenda em todos o desejo de acolher Cristo e de O levar aos outros, onde o Deus-Menino faça florescer, no coração de cada pessoa e de cada comunidade, sinais de esperança verdadeira, que não é apenas palavra, mas prática diária: cuidado, atenção, amor vigilante.
Finalmente, possa o nosso Arciprestado descobrir que a palavra da vida cristã do ano de 2026 será “Clarão”, ou seja, mesmo na noite mais escura, que a luz do olhar atento e carinhoso de Deus-Menino nos acompanhe e ajude a sermos, junto de quem mais precisa, um clarão de alegria e esperança.
Um alegre e luminoso Natal para todos!
Padre Nuno Vilas Boas, Arcipreste
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