Gosto, com gosto, de ter um olhar atento aos seres que invocam, para apelar ao sentimento mais animalesco do humano, “Deus, pátria, família”.
Que bonito!
Os protagonistas que utilizam este lema, estão, certamente, à espera de ser honrados com votos dos que se consideram herdeiros da “normalidade”. Sim, caro leitor, digo “normalidade”, porque os agentes destas invocações apelam ao “regresso” ao caminho do “natural”. Naturalmente, vem isto a propósito da eleição de Giorgia Meloni, em Itália. Mulher, cristã, uma fervorosa adepta da soberania de Itália, querendo deixar para trás as burocracias de Bruxelas, sem nunca dizer que é eurocética, desejando renegociar os tratados europeus. Ou seja, refere que Roma tem de assumir o controlo dos seus destinos. Até aqui tudo bem… Quando elabora sobre questões de cultura refere que é prioritário encerrar as fronteiras para proteger a Itália da “islamização” – “Sim aos valores universais da Cruz,
não à violência islâmica! Sim à segurança das fronteiras, não à imigração em massa!”.
Desculpe, o leitor entendeu?
“Sim” aos valores universais de Cristo, enquanto se encerra fronteiras? Como?
Alguém me consegue explicar como se faz isso?
Cristo referiu alguma coisa sobre fechar fronteiras que eu não conheça?
Será que há algum evangelho que eu não conheça que diga que quem segue Cristo deva distanciar-se do outro, como o islão?
Ou será que o “Deus” que Meloni apela é um “Deus” muito especial… só quer alguns.
Eu, sou sempre muito cuidadoso neste aspeto da imigração. Primeiro porque não escolhemos o local onde nascemos, e, muito provavelmente, onde viveremos os primeiros anos de vida. Só aí o apelo ao sentimento patriota é parvo. Eu, sou mesmo daqueles que considera que ter orgulho em ser de certa nacionalidade é só estúpido. Como assim “pátria” quando milhões abandonam os seus países de origem à procura de melhores condições.
Para Meloni, esses, não tem amor à “pátria”?
Deixem lá isso, e permitam às pessoas, dentro das regras da sociedade, viver onde querem. Ou será que Deus criou o mundo só para alguns viverem bem?
“Sim à família natural, não ao lobby LGBT”.
O que me ri quando li isso na entrevista que Meloni deu aos ativistas do VOX em Espanha. A futura primeira-ministra de Itália é daquelas cristãs que considera que existe uma escolha de orientação sexual de cada indivíduo. Para ela, o lobby LGBT deve fazer com que mais pessoas se tornem LGBT.
Não é assim, a única coisa que faz é com que as pessoas não heterossexuais não se escondam e possam viver as suas vidas mais felizes. Ou será que a cristã Meloni
prefere que o homossexual se esconda numa mentira para ter a “família natural” que tanto deseja?
Em que ficamos, preferimos o heterossexual mentiroso, ou o homossexual em família “não natural”?
Que diz Cristo sobre isso?
Talvez, Meloni, pertença aos novos cristãos, que se apoderam da cruz, sem a viver. Usam e abusam da mensagem de Cristo, sem nunca se lembrarem que a mensagem é também para elas. Atenção, quem diz Meloni, poderia referir qualquer outro político que apele aos sentimentos cristãos e, ao mesmo tempo, à discriminação de certos grupos. Custa-me acreditar que Meloni nunca tenha lido algum evangelho para perceber que não é possível dizer tantas coisas absurdas e referir-se como cristã.
Paulo Vigário
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